Os Homens de Preto, da Maçonaria

 OS HOMENS DE PRETO, DA MAÇONARIA”

- A história secreta do Brasil -

(Alguns livros não revelam tudo)


“Talvez nenhuma Organização existente neste planeta tenha sido tão mal compreendida.... Através dos tempos, elementos com objetivos inconfessáveis moveram campanhas difamatórias contra a mesma... defender-se publicamente das falsas acusações implicaria em tornar públicas operações da Ordem que só teriam sucesso assegurado, se realizadas no sigilo dos bastidores.”

José Marcelo Braga Sobral G  M 

(introdução do escrito: “O que é a Maçonaria”)


Autor: (*) Paulo Roberto Portela

Uma enorme curiosidade pelas sociedades secretas, semi-secretas e ‘discretas’, sempre me acompanhou. 

Intimamente saber o “por que’ das suas existências, e de qual forma seus quadros sociais eram formados, durante muito tempo me foi intrigante.

No ano de 2015, me deparei com um livro sobre o Luiz Gama; o advogado negro (rábula)  que libertou mais de 500 escravos pela via judicial, no século XIX; e, para minha surpresa, todos os seus conceitos foram estabelecidos dentro da Loja Maçônica América. Ainda mais surpreendente me foi saber que Rui Barbosa e Castro Alves (jovens estudantes na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco), pertenciam à mesma loja, além de frequentarem o escritório do Luiz Gama, por tê-lo como referência técnica e ética. 

Eram três baianos, maçons, em São Paulo, voltados para as mesmas causas.

(Luiz Gama, Rui Barbosa e outros “irmãos”, foram diretamente responsáveis pela ‘determinação’ onde todos os maçons da Loja América deveriam alforriar os seus escravos, 21 anos antes da Lei Áurea. Castro Alves, sob uma agressiva tuberculose, não teve o prazer de vivenciar momento tão sublime – alguns proprietários de terra abdicaram da maçonaria por conta de tal fato - )

(Quando Rui Barbosa; maduro, idolatrado por seus pares e famoso internacionalmente como o ‘’Águia de Haia”, assume a Presidência da IAB em 19 de abril de 1914 – hoje OAB- o seu discurso de posse assim inicia-se: “... Para não falar dos vivos, falarei do Luiz Gama”.. E o discurso de posse é paralisado por vários minutos, sob aplausos eufóricos. Efusivos. O negro mais importante para a liberdade judicial de outros negros, já era reconhecido pela mais alta sociedade brasileira no início do século XX)

Interessante me foi conhecer o grupo denominado ‘Os Caifazes”, criado e coordenado pelo maçon  Antônio Bento (um dos melhores amigos de Luiz Gama). Tal grupo raptava negros das Senzalas (sob apoio e proteção dos ferroviários da Railway Company)  e os levava para um Quilombo (Jabaquara), em Santos. 

(A Cidade de Santos, décadas antes da Abolição da Escravatura, não permitia que nenhum ser bípede humano, fosse cativo. Os negros, muitos fugitivos, trabalhavam livremente no cais do porto. As negras eram diaristas frequentes em casas de famílias ricas ou inglesas)

No Rio Grande do Sul, a Loja “Luz e Ordem” publicou (em 17 de maio de 1884) no jornal gaúcho “Federação”, sua posição em libertar levas de escravos de uma única vez. 

A ousada nota jornalística assim dirigia-se aos proprietários: “...Àqueles que tiverem petições, reclamações ou explicações a dar, devem procurar o tesoureiro da Loja, Bento Batista Orsi, à Rua Voluntários, 237”.

Me emocionou saber que também em 1884, em Fortaleza, a Loja “Fraternidade Cearense”  alforriava negros em suas festas. As famílias de maçons se regozijavam com as cartas de alforrias.

A partir de então, entusiasmado, decidi pesquisar mais a fundo sobre a sociedade maçônica. Fiz contacto com o principal biógrafo do “Advogado dos Escravos” (e também autor dos livros: “ A Camélia Branca” e "Anita Garibaldi, Paixão e Luta"): Dr. Nelson Câmara; um espírito empático e prestimoso até a data de hoje. Comprei revistas e livros voltados para o assunto e através de amigos maçons, me reuni, à época, com o hoje Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil/RJ; o ‘Eminente’ Aildo Virgílio Carolino, o qual me recebeu sob enorme simpatia e disponibilidade (tal encontro prazeroso, transformou-se em inenarrável alegria pois reencontrei um antigo professor da minha faculdade, além de surpreendentemente identificarmos alguns amigos em comum).

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A importância da maçonaria fica evidente quando D. Pedro I inicia-se no primeiro grau da forma da liturgia, presta juramento e adota o nome heróico de Guatimozin; tornando-se Grão Mestre logo adiante.

... Ou quando a República brasileira é instalada em 15 de novembro de 1889: o Marechal Deodoro da Fonseca, além de tornar-se Presidente da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil, em 19 de dezembro de1889 passa a ocupar, de forma concomitante, a cadeira de Grão Mestre Geral. Mais ainda pelo fato da primeira reunião ministerial da República dar-se no Palácio  Maçônico da Rua do Lavradio (na Lapa-RJ). 

Assim como ocorreu nos EUA, todos os ministros da república brasileira, sem exceção, eram maçons!

Em alguns momentos a maçonaria se dividiu: na Guerra dos Farrapos, o maçom e General Bento Gonçalves da Silva (Chefe Militar do Movimento Republicano), enfrentou seu Grão Mestre (honorário) do Grande Oriente ... e também Comandante do Exército Brasileiro: o monarquista, Duque de Caxias.

(As crenças e posicionamentos maçônicos, sob conceito de patriotismo, muitas vezes ocorreram às custas de inúmeras  perdas de vidas; de expurgos sociais; de confiscos patrimoniais significativos; além de, circunstancialmente em vários momentos, muitos maçons haverem suportado de forma determinada, preconceitos de desafetos, e até perda de  ‘amigos’ pessoais e mesmo familiares).

Entre os Presidentes da República, na história do Brasil, 12 eram maçons: Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Campo Sales, Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Pereira Gomes, Washington Luiz, João Café Filho, Jânio da Silva Quadros... e, mais recentemente; Michel Temer (esse, membro da maçonaria de 2001 a 2015; muito contestado pelos denominados “maçons progressistas”).

Convenci-me, em definitivo, que a maçonaria brasileira desde seus primórdios, estabeleceu-se como ‘pedra de toque’ em momentos de mudanças sociais, influenciando ou sendo alicerce nos diversos e mais importantes processos decisórios, político-históricos, de uma nação chamada BRASIL!

Mas nem sempre as “flores desabrocham convenientemente ou mesmo de forma igualitária”. 

Independente das suas discordâncias internas e às vezes não públicas. De momentos conceituais nem sempre unânimes sobre as definições de ‘luta’; concluí que a maçonaria sempre se propôs a ser uma ‘talhadora’ moral de homens, existências e gerações.

... Entretanto, como todo homem é um ser humano ‘in natura’ sob livre arbítrio, algumas decepções (assim como muitas felicidades) tendem a ocorrer... e ocorrem.

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É importante frisar que não sou maçom. O que teoriza a impossibilidade de paixões arrebatadoras e imparciais (conscientes ou inconscientes) serem, aqui, condutoras na abordagem literária.

O presente artigo informará sobre o que raramente se incluem nos livros escolares, entretanto, fruto do trabalho de respeitáveis e acreditáveis pesquisadores, sob provas documentais.

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A Inconfidência Mineira

Leitura da sentença dos inconfidentes, por Leopoldino Faria


Tiradentes: líder da Inconfidência Mineira/Wasth Rodrigues)


O QUE TODOS SABEM: A ideia do grupo inconfidente era livrar-se, através da Independência, da cobrança de impostos acharcantes (a Derrama), cobrados pela Coroa Portuguesa.

(Conhece-se, ainda, a sanha de políticos populistas, ao longo da nossa história, em resgatar-lhe a imagem, em proveito próprio)

O QUE POUCOS SABEM: A ideia de libertação antecedeu-se à Derrama.

. O grupo de insurgentes era formado, em sua maioria, por maçons que objetivavam, além da conquista de liberdade definitiva de Portugal, implantar um sistema de governo republicano em nosso país, aos moldes norte americanos. 

. “Patriotas” eram chamados os Maçons adeptos da República.

. Apesar de ainda haverem incertezas sobre onde Tiradentes iniciou-se,  M. Gomes (no livro “A Maçonaria na História do Brasil”), afirma que foi na Bahia. O padre Oliveira Rolim e o cadete Joaquim José Vieira do Couto (e seus irmãos) iniciaram-se no Tijuco; Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga foram iniciados em Coimbra, Portugal.

. Ainda segundo M. Gomes, Tiradentes, ao retorno da Bahia, foi portador de instruções secretas dos Maçons baianos aos “Patriotas” mineiros.

. Sobre a questão da escravidão, o grupo não possuía uma posição definida, provavelmente pelo fato da  maioria ser constituída de ricos proprietários de terras.

AS PROVAS do objetivo republicano: José Joaquim da Maia, estudante da Universidade de Montpellier/França (também um grande centro Maçônico), já em 1776 – dez anos antes da Inconfidência – tratava da emancipação do Brasil. Em carta datada de 20 de outubro de 1786, ele pede auxílio dos EUA ao Ministro daquela nascente República, Tomás Jefferson, para a revolução que nos levaria à Independência, em um movimento a ocorrer em Vila Rica, MG. Jefferson acusa o recebimento da carta e pede um encontro pessoal.

Uma das grandes provas do objetivo republicano de libertação de Portugal pelos inconfidentes, reside na criação, por eles, da nova bandeira para o Brasil. Ela seria composta por um triângulo vermelho num fundo branco, com a inscrição em latim: ‘Libertas Quae Sera Tamen’ (Liberdade ainda que Tardia). Nas Sociedades Secretas, o triângulo representa a Trindade: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, inspirada na Revolução Francesa.

Nos autos da Devassa, Tiradentes ao ser inquirido, confirmou o significado da insígnia, mas ao invés de citar a Sagrada Trindade da Maçonaria, teria dito Santíssima Trindade (ou a confusão teria sido, ainda, consequência de um erro do escrivão, nos autos).

Apesar do objetivo ser a implantação de uma república aos moldes norte americanos, Jacques Rosseau, filósofo iluminista, inspirou os movimentos dos inconfidentes.

 


CURIOSIDADES: A imagem que temos de Tiradentes, cabeludo e barbudo é absolutamente falsa, três são os motivos: como alferes, o máximo permitido pelo Exército Português seria um discreto bigode. Durante o tempo que passou na prisão, Tiradentes, assim como todos os presos, tinha periodicamente os cabelos e a barba aparados, para evitar a proliferação de piolhos, e, durante a execução, estava careca com a barba feita, pois o cabelo e a barba poderiam interferir na ação da corda (em algum momento da história brasileira, alguém retratou Tiradentes à imagem e semelhança de Jesus Cristo, fazendo nascer um herói nacional). 

  • Quando José Silvério dos Reis os denuncia, uma figura encapuzada (até hoje incógnita), bate nas casas de todos os inconfidentes, gritando que o movimento foi descoberto e que os soldados logo chegariam.
  • Na primeira noite em que a cabeça de Tiradentes foi exposta em Vila Rica, ela foi furtada, sendo o seu paradeiro desconhecido até aos nossos dias.
  • Tratando-se de uma condenação por inconfidência (traição à Coroa) os sinos das igrejas não poderiam tocar no momento do enforcamento, entretanto, conta a lenda que o sino da igreja local deu cinco badaladas, contrariando o protocolo.
  • A casa de Tiradentes foi arrasada, o seu local foi salgado para que mais nada ali nascesse, e as autoridades declararam infames todos os seus descendentes.
  • Acredita-se que as primeiras Sociedades (mistas) de Filosofia Maçônica (algumas denominadas ‘literárias’), no Brasil, foram criadas por influência do Marquês de Pombal 1º. Ministro do Rei D. José. Sua filha e sucessora, Dona Maria, inicia entretanto, uma enorme perseguição aos Maçons, principalmente após a Inconfidência.

Quadro ‘Mártir da Inconfidência’/Pedro Américo

  • O artista Pedro Américo, ao pintar, em 1893 o seu famoso quadro do ‘Mártir da Inconfidência’, buscou uma representação pitoresca: a cabeça de Tiradentes assemelhava-se a de Jesus; o braço pendente faz alusão à tela “A Morte de Murat” (líder da Revolução Francesa assassinado por seus ideais), de Jacques-Louis David; o estrado onde está o corpo faz alusão ao suplício de Jesus para salvar a humanidade; e o modo como o restante do corpo está exposto, forma o mapa geográfico brasileiro.

Quadro “A Morte de Murat”/ Jacques-Louis David


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A CONJURAÇÃO BAIANA

“... imolando-se pela pátria, adquiriram uma glória imortal e tiveram soberbo mausoléu, não na 

sepultura em que repousam, mas na lembrança ‘sempre’ viva dos seus feitos”

(Péricles – Oração fúnebre aos Atenienses)

Apesar de bem menos conhecida e ‘celebrada’, tal conjuração foi muito superior ao da Inconfidência Mineira, tanto em impacto político, quanto pelo número de adeptos (em torno de 600) 

 

Praça da Piedade, local da execução dos conjurados

O QUE TODOS SABEM: A Conjuração Baiana também denominada como Revolta dos Alfaiates (uma vez que alguns participantes da trama exerciam este ofício; aliás, ofício importantíssimo em termos sociais, já que o vestuário de homens e mulheres era, basicamente, sob medida) e recentemente também chamada de Revolta dos Búzios, foi um movimento de Caráter emancipacionista, ocorrido entre 1796 e 1799, na então Capitania da Bahia. 

Foi difundida pela historiografia tradicional como sendo um movimento de caráter popular em que defendiam a independência e o fim da escravidão; um governo republicano, democrático, com liberdades plenas; o livre-comércio e abertura dos portos, como principais pontos.

O QUE POUCOS SABEM: Segundo um dos mais acreditados historiadores brasileiros, Pedro Calmon: “alguns homens poderosos se agitaram por trás do alfaiates e era Maçônico o segredo que os unia”.

Diferentemente da Inconfidência, todos os 34 réus (de 600 participantes) foram condenados e o menor dos castigos foi o degredo. Quatro foram condenados à forca, em seguida seus corpos foram esquartejados (tal qual Tiradentes) e as suas cabeças separadas para serem fincadas em altos postes (outra diferença reside nas influências: os inconfidentes baseavam-se no padrão da República dos Estados Unidos; e a Conjuração no da República Francesa).

Entre os condenados a forca estavam: Lucas Dantas de Amorim Torres, João de Deus Nascimento, Manoel Faustino dos Santos e Luiz Gonzaga das Virgens.

ALGUNS REGISTROS MAÇÔNICOS, NO PERÍODO

Em 1797, surge, na Bahia, a sociedade secreta “Cavaleiros da Luz”, de caráter Maçônico.

(Entre os componentes dessa Sociedade militava o padre Agostinho Gomes, famoso pela participação em todos os movimentos que tinham por finalidade a separação do Brasil de Portugal)

Em 1800, surge a “União”, futura “Reunião”, no Rio de Janeiro.

Ainda em 1800 o médico e botânico Manoel de Arruda Câmara, formado pela Universidade de Montepellier, volta ao Brasil nutrindo forte admiração pelos ideais da Revolução Francesa e funda o “Areópago de Itambé”, nas divisas de Pernambuco e Paraíba. Em seguida surgem a “Academia de Suassuna”, a “Universidade democrática”, a “Academia do Paraíso” e a “Oficina de Iguarassu”.

Com a notícia, em Portugal, da criação de novas Lojas Maçônicas na Bahia e no Rio de Janeiro, todas sob o auspício do Grande Oriente da França, o Grande Oriente Lusitano também vem aqui estabelecer-se. Mas enquanto o primeiro pretendia desligar-se de Portugal, o segundo era apenas anti-absolutista, porém não favorável à Independência; o que traz conflitos de posicionamentos ideológicos entre os ‘irmãos’.

Funda-se em Pernambuco uma loja da qual fazem parte vários padres. O seminário de Olinda, dirigido pelo Bispo de Recife, D. Azeredo Coutinho, transforma-se em uma colméia revolucionária das mais ativas e influentes.


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A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA

- 72 anos antes da oficial, uma República estabelece-se no Brasil - 

Benção das bandeira da Revolução de 1817/Antônio Parreiras


O QUE TODOS SABEM: Esse Movimento emancipacionista ocorreu a 6 de março de 1817. Duas questões lhe vitaminavam: a independência, sob regime republicano; e a rivalidade entre nacionais e portugueses.

Após descoberto o Movimento, os militares portugueses (comandados pelo Brigadeiro Barbosa, português de nascença) tentaram prender chefes militares e civis brasileiros, sem sucesso. O amotinado Capitão José de Barros Lima vara à espada o Brigadeiro Barbosa. Presos políticos foram libertados e o Governador, por precaução, embarca às pressas para o Rio com seus Generais.

O QUE POUCOS SABEM: Tal movimento foi preparado nas sociedades secretas. Um Governo provisório foi instituído com 7 membros, entre eles o padre João Ribeiro P. de Melo Montenegro e o padre Miguelinho, além de militares. Todos os seus 7 componentes eram Maçons.

Medidas liberais foram decretadas. Elaborou-se, então, um projeto de constituição onde incluía-se a tolerância religiosa e a emancipação progressiva da escravidão. 

A PROVA: No alto da bandeira dos republicanos, a Estrela Flamígera, símbolo maçônico dos mais significativos (a Estrela Flamígera representa as forças e os perigos que podem desvirtuar até o homem mais sábio de todos os sábios do caminho da retidão que leva à Verdade)

Em 12 de maio, bloqueados por terra e mar, os “Patriotas” são derrotados.

Apesar de derrotados, segundo pesquisadores, os revolucionários travaram batalhas heróicas. No comando das tropas republicanas estavam os padres Souto Maior e João Gomes de Lima, além do Frei João Loureiro e Francisco de Carvalho Paes de Andrade (futuro chefe da revolução denominada Confederação do Equador). Em 1818 as sociedades secretas são proibidas, novamente.

CURIOSIDADES: O padre João Ribeiro, após caminhar na frente da tropa com uma carabina, em sinal de humildade aos seus comandados, e não querendo assistir a morte da República, suicida-se na Igreja de Paulista, perante a imagem do Cristo crucificado.

Preso pelas tropas reais, o padre Roma (José de Abreu Lima) antes do fuzilamento grita aos seus atiradores (granadeiros):

“Camaradas, lembrai-vos na pontaria que aqui (pondo a mão no coração) é a fonte da vida. Atirai!”


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O DIA DO ‘FICO’

 


O QUE TODOS SABEM: Compelido a retornar a Portugal, pelas Cortes lusitanas, D. Pedro (no dia 08 de janeiro de 1822), após enorme apelo popular, diz:

“Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”.

O QUE POUCOS SABEM: Tal dia tem uma grandiosa importância histórica (nem sempre citada pelos historiadores) porque, caso o Príncipe se retirasse das nossas terras, o Brasil voltaria a ser uma simples colônia portuguesa, como tantas outras, na África.

O dia do “Fico” marcou o início da nossa emancipação. De acordo com Varnhargem (na sua história da Independência do Brasil), D. Pedro com a atitude que tomou, passou a integrar o movimento nacionalista brasileiro. Ali, os grilhões que acorrentavam o Brasil a Portugal foram quebrados.

A PROVA: A decisão de D. Pedro em ficar, também ancorou-se na Representação do Clero Maçônico, Paulista, onde após longo texto, o Bispado e o Clero do Bispado pedem ao Príncipe que não se afaste do Brasil, “...onde todos os brasileiros o estimam, amam e reverenciam”; além de lhe prometerem total apoio maçônico.

O Clero Paulista pertencia ao grupo dos Maçons Azuis, onde pregava-se a independência sob o regime monárquico (influência inglesa).

Tal Representação também foi uma resposta aos Maçons Vermelhos (desejosos da Independência pelas vias republicanas, como na França). 

Entre os Maçons Vermelhos encontramos, por ironia, dois dos grandes e maiores amigos do Príncipe: seu principal Ministro, José Bonifácio de Andrade e Silva, e José Clementino Pereira, então Presidente da Câmara.

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D. PEDRO, MAÇON

- Guatimozin – 
O Imperador Fernando I, da Áustria, na qualidade de Grão Mestre da Ordem do Tosão de Ouro


D. Pedro inicia-se na maçonaria, na Loja “Comércio e Artes”. 

Segundo Varnhargem , ele foi informado dos serviços da Maçonaria à sua causa e ao Brasil. 

Movido pela curiosidade tão natural da sua idade, mas também por argumentos catequizantes (onde são citados casos de outros reis, na Europa), José Bonifácio o convence, inclusive mostrando-lhe a ação de Gonçalves Ledo, na ‘Loja’, pela causa da Independência, o que muito o entusiasmou (ou intrigou... ou temeu!).

(O historiador Pedro Calmon, entretanto, afirma de forma categórica que D. Pedro teve a certeza que a Maçonaria não era, apenas, o movimento emancipador ; ele concluiu que ela, a Maçonaria, seria capaz de, sozinha, realizar a Independência)

Iniciado no primeiro grau da forma da liturgia, presta juramento e adota o nome heróico de Guatimozin.

Por clara e indiscutível estratégia dos líderes maçônicos (ancorada politicamente, talvez, pela sua posição de Príncipe Regente; portanto Chefe político e espiritual da nação: o Estado ainda não era laico), em pouquíssimo tempo D. Pedro torna-se Grão Mestre.

Segundo M. Gomes, intrigas na Corte, onde falava-se que a Maçonaria secretamente trabalhava para dissolver o corpo de Ministros, faz D. Pedro fecha-la (em 25 de outubro de 1822), como seus antecessores (inclusive sua avó, D. Maria I, “A Louca”) antes o fizeram

Porém, mesmo em matéria de confiança, os limites se impõem às vezes naturalmente: ele entregou, para tutoria e para a educação (o bem mais precioso que dispunha) seu filho Pedro de Alcântara, ao homem que lhe parecia mais indicado sob aspectos inúmeros, inclusive morais: José Bonifácio de Andrade e Silva; aquele que abriu mão do Grão-Mestrado a seu favor... o destino, desta forma, estabeleceu-se!

Pedro II, em pintura de Ferdinando Krumhols/1842


Pedro jamais se arrependeu. A sua escolha foi mais que acertada.

De forma inegável, tal educação ajudou a transformar uma criança de 7 anos em um monarca sapiente, admirado, amado e respeitado pelo seu povo. E também um dos mais espertos, politicamente. Segundo Jorge Caldeira, em seu livro “Barão de Mauá”; entre muitas espertas atitudes, D. Pedro II elevava ao poder ora liberais, ora conservadores, de forma a mantê-los sempre fragilizados, sob a sua autoridade. 

Pedro de Alcântara tornou-se um homem único à frente do seu tempo e bastante respeitado pelos seus pares europeus; incluindo a toda poderosa Rainha Vitória, da Inglaterra. 

Alcunhado de ‘Magnânimo”, todos os escravos imperiais foram alforriados tornando-se assalariados. 

A sua esposa, a Imperatriz Thérèse-Christine des Deux-Siciles, pessoalmente elaborava as refeições de toda a família.

E, sob a sua gestão, o Brasil alcançou a condição de 4ª. maior economia do mundo, além de possuir a Constituição (imperiana) mais moderna do globo terrestre. 

Destituído do poder monárquico, recusou a proposta dos golpistas republicanos de receber pensão vitalícia (apenas solicitou autorização para levar um pouco de areia/terra brasileira ao exílio. Dizem que a guardava no bolso da casaca enquanto caminhava pelas ruas de Paris). Viveu na França de favores, até a sua morte.

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A INDEPENDÊNCIA

D. Pedro I, Imperador do Brasil


O QUE TODOS SABEM: Aos 7 de setembro de 1822 D. Pedro quando estava em viagem de Santos para São Paulo, próximo ao riacho do Ipiranga (e após as cartas do seu pai, D, João VI ordenando a sua volta a Lisboa; do Ministro José Bonifácio recomendando o rompimento com Portugal e, a terceira de Dona Maria Leopoldina, sua esposa, apoiando a orientação de Bonifácio; levantou a espada e gritou: “Independência ou Morte!”, marcando a Independência do Brasil.

O QUE POUCOS SABEM: Segundo o padre Belchior (Guarda Roupas do então Príncipe Regente), em escritos de 1826 (quatro anos posteriores), D. Pedro pediu-lhe para ler em voz alta as cartas; e que havia uma quarta carta (normalmente não citada nos livros didáticos): era de Chamberlain, agente secreto do Príncipe na corte lusitana. Nela está a informação de que o partido de D. Miguel, seu irmão e inimigo mortal, sagrou-se vitorioso em Portugal e que se falava abertamente na deserdação de D. Pedro em favor de D. Miguel (o filho preferido de Carlota Joaquina). Ele complementa que a cena com a espada ao alto só aconteceu no Segundo Brado do Ipiranga. No Primeiro, D. Pedro não exclamou “Independência ou Morte” e mostrou sinais de indecisão.

Também é pouco conhecido que a Independência do Brasil foi um processo longo e sangrento, que estendeu-se de 1821 a 1825. De pacífico, portanto, nada teve. Entre 1822 e 1825 o império enfrentou resistências; tanto o é que o dia 02 de julho (pelo ano de 1823) estabelece-se como um dos maiores feriados baianos: Independ6encia da Bahia! 

Regiões como o Maranhão, Piauí, Grão-Pará e a Cisplatina sofreram intervenções militares para se verem livres do domínio lusitano. Estima-se entre duas e três mil mortes nas batalhas.

CURIOSIDADES: Ainda segundo o padre Belchior, a parada perto do riacho aconteceu para que D. Pedro resolvesse um problema pessoal, de ordem fisiológica: ele estava com diarreia. 

  • Alguns historiadores questionam a data da Proclamação da Independência, 7 de setembro. Segundo estes, nenhum jornal da época noticiou o fato. As primeiras notícias só surgiram a partir de de 12 de outubro, quando Pedro foi aclamado Imperador do Brasil. O 7 de setembro só passou a ser comemorado a partir de 1826.
  • Para reconhecer a separação, Portugal exigiu o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas. Porém os cofres públicos estavam vazios desde a volta de D. joão VI para Lisboa, e D. Pedro teve de recorrer à Inglaterra, a qual exigiu um tratado comercial para emprestar o dinheiro. Daí sugiu a dívida externa brasileira. Com o pagamento da indenização, Portugal reconheceu o Brasil como país soberano em 29 de agosto de 1825.
  • Ainda em 1822 foi composto o que viria a ser o Hino Nacional Brasileiro. Francisco Manoel da Silva criou a melodia com o nome de “marcha Triunfal”. A letra que conhecemos hoje foi escrita 87 anos depois (em 1909), por Joaquim Osório Duque Estrada, e o hino oficializou-se em 1922.
  • O Hino da Independência, atribuído a D. Pedro I, já estava pronto quando a Independência foi proclamada. Ele foi escrito em 16 de agosto de 1822 por Evaristo da Veiga, com música de Marcos Portugal (um músico famoso na Europa que havia sido contratado para ser o compositor oficial da corte. Mais tarde, Dom Pedro criou outra melodia, e a versão de marcos Portugal foi substituída, apesar de continuar sendo executada até o começo do século XX. A história oficial, entretanto, erroneamente conta que Dom Pedro compôs o hino no mesmo dia do Grito do Ipiranga.
  • Dom Pedro fez fama na Europa como grande guerreiro, dois foram os motivos: catalisou a Independência no Brasil e (após abdicar do trono em favor do seu filho, Pedro de Alcântara), liderou parte do exército português, derrotando as tropas do seu irmão, Miguel (as chamadas “Miguelistas”), fazendo permanecer no poder a sua adorada filha, Maria da Glória; Dona Maria II – casada para manutenção do poder familiar com o golpista Miguel, desde os 9 anos de idade; sob a condição dela ser a Rainha –

As tropas “Miguelistas”eram muito mais numerosas e bem equipadas que as sob o comando de Dom Pedro, na inacreditável proporção de 7 mil homens contra dezenas de milhares, obedientes ao seu irmão.

Com tamanha fama (segundo Leandro Narloch”, em seu “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”), ele quase se torna Imperador da Grécia!!!

D. Pedro I foi convidado pelos gregos, oposicionistas do regime lá vigente, para liderar as tropas de oposição, em troca do título e da autoridade de Imperador naquele país; mas negou.


Famoso quadro de Pedro Américo

 CURIOSIDADES: O famoso quadro de Pedro Américo, “Independência ou Morte”, foi pintado na Itália, por encomenda do Império, e entregue em 1888, 66 anos depois da proclamação.

O pintor nem era nascido em 1822; mesmo assim ele se retrata no quadro, como o condutor do carro de bois.

Na pintura, Dom Pedro aparece cercado pela Guarda Imperial, a qual ainda não havia sido criada. Além disso, o fardamento dos soldados era incompatível com a roupa usada na época para longas viagens.

Outra ‘liberdade’ do artista foi pintar belos cavalos no lugar de jumentos; estes últimos, altamente resistentes, eram usados para subir a Serra do Mar.

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A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

Exército Imperial do Brasil ataca as forças confederadas no Recife/1824

O QUE TODOS SABEM: A Confederação do Equador foi um grande movimento revolucionário, de caráter separatista e republicano ocorrido m 1824 no Nordeste do Brasil, tendo como centro irradiador a província de Pernambuco. Representou a principal reação contra a tendência absolutista e a política centralizadora do governo de D. Pedro I (1822-1831), esboçada na Carta Outorgada de 1824, a primeira Constituição do país. A revolução queria a formação de uma república baseada na constituição da Colômbia.

O QUE POUCOS SABEM: O historiador Gustavo Barroso (em seu livro: “História Secreta do Brasil”), afirma: “... A Confederação do Equador nada mais foi do que a quarta fase da revolução claramente maçônica que se vinha preparando desde o raiar do século”.

CURIOSIDADES: Após as forças imperiais (lideradas pelo Coronel Francisco de Lima e Silva e pelo Almirante Lord Cochrane) derrotarem os revolucionários, seus líderes são condenados à morte; entre eles Frei Caneca e Padre Mororó (Gonçalo Inácio de Loiola e Melo).

  • Frei Caneca era tão querido por todos que algo inusitado ocorreu, quando do seu enforcamento: nenhum carrasco se prestou a enforcá-lo; razão da sua sentença ser reformada para fuzilamento.
  • Por sua vez, Padre Mororó era conhecido e respeitado no Ceará como um patriota capaz de qualquer grandeza pela Pátria. Segundo o historiador Viriato Correa (em: “Contos da História do Brasil”), a sua execução foi tão concorrida que as pessoas se apinhavam e a multidão era tamanha que só a muito custo as tropas conseguiram abrir passagem. Um soldado o quis  lhe vendar e ele, absolutamente sereno, recusa; cruza as mãos sobre o peito, como mostrando o alvo, e grita aos atiradores:

“... E vejam lá! Tiro certeiro, que não me deixe sofrer muito”. Suas últimas palavras!


ALGUNS REGISTROS MAÇÔNICOS, NO PERÍODO 

  • Em 7 de setembro de 1831, por iniciativa da maçonaria, são declarados livre todos os africanos importados para o Brasil.
  • Em 8 de junho de 1833 o Grande Oriente autoriza despesa para a libertação de uma escrava.

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A GUERRA DOS FARRAPOS

(mais uma grande república brasileira, 54 anos antes da oficial)

Quadro de Guilherme Litran; ‘Carga de Cavalaria Farroupilha”/Museu Júlio de Castilhos

O QUE TODOS SABEM: Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha foi como ficou conhecida a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense. Estendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845.

O QUE POUCOS SABEM: Esta revolução foi inspirada e posta em execução pela Maçonaria. Dentre os inúmeros maçons envolvidos, destaca-se o General Bento Gonçalves da Silva, chefe militar do Movimento e uma das figuras mais representativas da Província.

CURIOSIDADES: Do lado contrário, entretanto, também haviam maçons, monarquistas como Duque de Caxias (Grão Mestre, Honorável, do Grande Oriente do Brasil), exímio treinador do Exército brasileiro; importantíssimo na manutenção da unidade do Império.

  • Tal Revolução, tornou-se tão importante ao, hoje, povo gaúcho e dela tanto se orgulham que Antonio da Rocha Almeida, em seu ‘Vultos da Pátria’, revela: “Já se disse que a história da Revolução farroupilha é para ser cantada e não contada. Tem ela alguma coisa de cristalino, de aveludado, de ondeante, de marmóreo, que, por si só, plasticamente, realiza a absoluta beleza”.
  • Em se tratando do povo rio-grandense, tal orgulho pode ser compreendido e justificado por uma  famosa piada, comum entre eles: “Deus fez o homem, depois quis aperfeiçoa-lo e criou o gaúcho”.
  • O Professor da Universidade de Santa Maria, José Iran Ribeiro, autor do livro historiográfico “ O Império e as Províncias: Estado e Nação nas Trajetórias dos Militares do Exército Imperial no Contexto da Guerra dos Farrapos”, revela as palavras do Conde d’EU, em seu escrito: “Viagem Militar ao Rio Grande do Sul”. 

Conta-nos, desta forma, o marido da Princesa Isabel, sobre a personalidade dos rebeldes farroupilhos:

 “Só há no mundo (para eles)... três classes de habitantes: rio-grandenses...; castelhano (seu rival odiado)... ou baiano. Para o gaúcho rio-grandense, quer um homem tenha nascido à sua porta, na Província de Santa Catarina, quer na Lapônia, é sempre baiano... um ser inferior, porque maneja bolas sem laço, não se tem por ‘centauro’ e não entende ser desonra andar a pé”.

(Conde d’Eu)

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A QUESTÃO RELIGIOSA

“A Maçonaria é uma escola perpétua de altruísmo. Nessa escala, o homem aprende o que seja a fraternidade no seu mais puro sentido. Como a fraternidade é a pedra angular da democracia, eis que o altruísmo democrático domina todo o ideário maçônico”

(Nilo Peçanha)


 

Papa Pio IX

O QUE POUCOS SABEM: Em 03 de março de 1872 o Grande Oriente do Brasil realizou sessão magna para festejar a promulgação da Lei do Ventre Livre e prestar homenagem ao Maçon José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco (símbolo personificado dos diplomatas brasileiros), pelos seus esforços naquela conquista dos abolicionistas.

Nessa solenidade, o padre-maçom Joaquim de Almeida Martins profere magistral discurso, depois publicado nos jornais da época.

Inconformado, o Bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro de Lacerda, suspende-o de ‘ordens’, ataca o Grão Mestre do Grande Oriente e condena a Maçonaria.

O Grande Oriente, com base na Constituição do Império (parágrafo 5; art. 199: “... ninguém pode ser perseguido por motivo de religião, uma vez que respeite a do Estado e não ofenda a moral pública.”), toma as medidas judiciais cabíveis, demonstrando a ilegalidade do ato de suspensão do padre-maçom.

Em dezembro, o Bispo de Olinda coloca em execução o famoso ‘Syllabus, de Pio IX, que proibia aos membros das irmandades religiosas fazerem parte da Maçonaria.

E, no ano seguinte, a carta “Quamquam dolores”, de Pio IX, também é utilizada: padres são suspensos de ‘ordem’; irmandades interditadas; e católicos maçons condenados à ex-comunhão pelos Bispos.

Irmandades interpõem recurso à Coroa; têm ganho de causa e os Bispos de Olinda e o de Belém do Pará são responsabilizados por desrespeito à Constituição e condenados a 4 anos de prisão, pelo Supremo Tribunal de Justiça.

A ‘Questão Religiosa’ é encerrada quando D. Pedro II concede anistia aos Bispos, a 19 de setembro de 1875.


A 7 de janeiro de 1880 foi promulgado o Decreto Imperial separando a Igreja do Estado; seu autor intelectual foi o Rui Barbosa.


CURIOSIDADES: em 28 de abril de 1738, o papa Clemente XII promulgou a bula “In eminenti apostolatus specula” que entrou para a história, por ser a primeira condenação pontifícia da Maçonaria.


. Esse conflito perdurou até o advento do Papa João Paulo II, que quebrou essa animosidade entre os cristãos católicos e os maçons. 


Na opinião da Sua Santidade, o Papa João Paulo II, a Maçonaria é uma "respeitável organização". Segundo seu entendimento, "a maçonaria não afasta ninguém da própria religião, mas pelo contrário constitui um incentivo a aderir ainda mais a ela", porém, mesmo assim, ainda existe divisão dentro do Clero da Igreja Católica. 


E não pode afirmar-se que as excomunhões estabelecidas pelos bispos, no caso da “Questão Religiosa” (e em outras oportunidades), tenham sido revistas.

Bento XVI/265º. Papa da Igreja Católica

...Isto porque em 26 de novembro de 1983, o então Cardeal e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Aloisius RATZINGER (o Papa, renunciado, Bento XVI), em documento emitido em Roma, na sede da Congregação; estabelece que “Permanece imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja...”

  • Segundo M. Gomes (no seu: “A Maçonaria na História do Brasil”) a política eclesiástica da Igreja Católica ou ortodoxa, esteve por trás das perseguições memoráveis aos maçons na Áustria, na Rússia e na Espanha. Assim como foi a Santa Inquisição que promoveu vexames e massacres de maçons na Espanha e em Portugal.


A ABOLIÇÃO


De acordo com o historiador Gustavo Barroso, após atingir a Independência do Brasil, a Maçonaria prossegue no objetivo da República, além de outro sério problema a ser resolvido: a abolição do homem negro.

A Maçonaria, vigilante e consciente do que lhe cumpria fazer, organiza-se, cria Lojas, funda clubes, angaria recursos para alforriar escravos, enfim, publicamente prega a abolição.

O Maçônico Conselho de Estado começou a estudar uma solução no maior sigilo.

O QUE TODOS SABEM: No ano de 1888 a escravidão foi abolida através da Lei Áurea, que foi assinada pela princesa Isabel no dia 13 de maio daquele ano. Essa medida beneficiou uma grande quantidade de escravos que ainda existia no país.


GRANDES MAÇONS ABOLICIONISTAS, DESCONHECIDOS

São conhecidos inúmeros abolicionistas (muitos deles maçons). Nomes como o de Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, jamais serão esquecidos. Mas existiram outros paladinos.

Luiz Gama

O QUE POUCOS SABEM: Muitas Lojas e muitos maçons se destacam. Um maçom, especificamente, lança luzes sobre muitos outros. Este homem se chamava Luiz Gama, mas podemos cognominá-lo de “o rábula negro”. Um exemplo de superação pessoal e de dedicação ao próximo. Provavelmente o maior nome abolicionista que tenha existido, mas, infelizmente, ainda pouco lembrado.

Sua história assemelha-se a um enredo de ficção ‘hollywoodiana’: nascido em Salvador, de um fidalgo português e uma negra escrava liberta, foi vendido pelo próprio pai como escravo com apenas 10 anos de idade, numa ‘carga’ contrabandeada para São Paulo.

Analfabeto até os 17 anos, tornou-se autodidata. Estudou direito e exerceu a advocacia mesmo sem diploma de bacharel (ele foi proibido de cursar a Universidade por ser negro), tornando-se um rábula, portanto. Conseguiu a sua própria libertação autodefendendo-se.

Tornou-se ativista político, poeta, escritor e jornalista dos mais respeitados; além de um dos maiores oradores do seu tempo.

Advogando de graça, conseguiu libertar mais de 500 escravos pela via judicial. O ‘habeas corpus’ número 001, no Brasil, lhe pertence.

Castro Alves e Rui Barbosa, então com 18 anos, cada, o conheceram em São Paulo, na Loja maçônica América e Luiz Gama passou a ser por eles admirado. 

Quando Rui Barbosa, aos 19 anos, sagrou-se vencedor em debate na Loja América, em São Paulo (contra o seu próprio professor de direito na Universidade) para que todos os Maçons da Loja América viessem a libertar seus escravos, Luiz Gama, entre outros, provavelmente lhe auxiliou na base do discurso.

Como já dito anteriormente, décadas antes de 13 de maio de 1888, todos os maçons proprietários de escravos, foram obrigados a alforria-los, por exigência da Maçonaria.


Segundo vários historiadores (tendo por base diversos documentos descritivos da época), o enterro de Luiz Gama é considerado, até hoje, o maior evento/cortejo fúnebre já visto em São Paulo. O seu caixão passava de mão em mão, entre escravos libertados e muitas pessoas da elite social paulistana. Morreu pobre porém herói... pela causa abolicionista.

CURIOSIDADES: Em "O Advogado dos Escravos-Luiz Gama"- 2ª edição- Nelson Câmara nos informa sobre o decreto nº 20.723/1985, do então Prefeito de São Paulo, Mário Covas, prestando significativa homenagem a negra Luiza Mahin, mãe de Luiz Gama (uma negra liberta, mulçumana, do Norte da África, que sabia ler e escrever). Revolucionária que entre outros movimentos libertários participou em Salvador da famosa "sabinada", sendo presa por isso. Diz a história que depois foi ao Rio de Janeiro (capital do Império escravagista) lutar a favor do movimento rebelde, sendo presa e "desaparecida". Daí porque o já adulto, Luiz Gama, por duas vezes na capital do Império não conseguiu saber seu paradeiro.

  • Mais recentemente, a OAB o reconheceu como advogado em sessão solene e inédita, na história daquela Ordem.


Um grande irmão do Luiz Gama foi o maçom Antônio Bento. Sua história também assemelha-se a um enredo de ficção. Sendo um ex promotor de justiça e ex magistrado, nascido abastado e de família tradicional, proprietária de terras, decidiu agir na clandestinidade: ele criou um grupo chamado “Os Caifazes” que raptavam negros nas Senzalas e os levava para um Quilombo (Jabaquara), em Santos. 


Um detalhe interessante é que tais negros eram levados com total apoio solidário dos ferroviários da estrada de ferro inglesa, São Paulo Railway Company, Santos/Jundiaí (trabalhadores formados em quadros técnicos ensinados pelos ingleses, absolutamente contrários à escravidão). Por Lei, eles tinham a sua própria polícia, a ferroviária, da qual os fazendeiros e o próprio governo temiam, segundo Nelson Câmara em seu livro, “A Camélia Branca”.

A Cidade de Santos era um oásis de liberdades individuais plenas, independente de cor. Os negros e as negras, muitos fugitivos, tornavam-se assalariados.


No livro "Anita Garibaldi, Paixão e Luta", também de Nelson Câmara, somos conhecedores da extraordinária figura do negro "André Aguiar"; talvez o primeiro negro liberto à força, no Brasil... pelo revolucionário e mártir italiano, Giuseppe Garibaldi, também maçom, iniciado no Brasil!

Apesar de Giuseppe lhe conceder a ‘alforria’, o negro André, por agradecimento, jamais o abandonou em suas lutas ideológicas, lutando na Guerra da Farroupilha; no Uruguai contra o ditador Rosas da Argentina; e na Itália, por sua reunificação.

Segundo carta de Anita Garibaldi à sua irmã Felicidade, no Rio de Janeiro-capital do Império, André Aguiar, em luta ao lado de Giuseppe na Itália pela reunificação dos reinos na Itália e contra o cruel papado do Vaticano (Pio IX), morre após estilhaço de canhão e ser pisoteado por cavalos. O negro André Aguiar  não é conhecido no Brasil, mas considerado um herói do povo italiano !

CURIOSIDADES: Joaquim Nabuco também ousou: pediu ao Papa Leão XIII apoio para a causa abolicionista brasileira, dele obtendo total apoio.

  • Em tese de Mestrado/UFF, Samuel Vieira da Silva defende que entre 1869 e 1900, “ (a) MAÇONARIA BRASILEIRA (esteve) NA DEFESA DO ENSINO LAICO E NA CRIAÇÃO E MANUTENÇÃO DE ESCOLAS”
  • O Ceará (em Mossoró) foi a primeira Província brasileira a emancipar os seus escravos (25 de março de 1884). Seu Governador era o Maçon Sátiro Dias.
  • Como já informado na introdução, no Rio Grande do Sul, a Loja “Luz e Ordem” publicou (em 17 de maio de 1884) no jornal gaúcho “Federação”, sua posição em libertar levas de escravos de uma única vez. 

A ousada nota jornalística assim dirigia-se aos proprietários: “...Àqueles que tiverem petições, reclamações ou explicações a dar, devem procurar o tesoureiro da Loja, Bento Batista Orsi, à Rua Voluntários, 237”.

  • Em 10 de outubro de 1887, a Loja “Cavaleiros da Cruz” convoca seus membros para a implantação de um “fundo para libertação dos escravos”. E estabelece que: 
  • nenhum irmão daquela Loja poderia mais possuir escravos; 
  • antes de qualquer Iniciação ou Filiação, o ‘iniciado’ ou ‘filiado’ deveria comprometer-se a libertar seus escravos e nunca mais possuí-los; 
  • o irmão que não considerasse aquelas Leis seria considerado perjuro, conforme o juramento que prestou à Maçonaria; 
  • nenhum irmão poderia advogar contra um escravo; denunciar seu esconderijo; castiga-lo corporalmente, ou permitir que alguém sob a sua ordem o fizesse; por fim, praticar qualquer ato que deixe de reconhecer que um homem não se sobrepuja ao outro homem... 

UAU!!!!! Como não deixar de se emocionar com o acima estabelecido.

  • Em 08 de maio de 1888, o maçom Rodrigo Silva, Ministro da Agricultura do Império, apresenta o Projeto de Libertação (definitiva). Em 13 de maio de 1888, ele assina, conjuntamente à Princesa Isabel, a Lei Áurea.
  • Além da Abolição da Escravatura, dois outros eventos apressam o advento da República: a ‘Questão Religiosa’, acima descrita; e, considerado por muitos historiadores como o mais importante entre eles (pouco ou quase nunca discutido nos bancos escolares): ‘A Questão Militar’.


A QUESTÃO MILITAR

- O principal apressamento da República; o que, certamente, poucos sabem -

 


Muitos incidentes entre o governo civil e os militares, causavam mal estar, entre os anos 1884 e 1887.

A situação se agrava quando dois oficiais são punidos por haverem discutido, na imprensa, um Projeto de Lei de interesse militar.

Em defesa dos dois oficiais, um Manifesto foi divulgado, onde são atacadas declarações ministeriais no Senado. Este Manifesto evoca o direito comum a todos os cidadãos a se defenderem (incluindo os militares).

Mas, a grande importância e valorização pública do Manifesto estava nos seus signatários: Manoel José Antônio Corrêa de Câmara – Visconde de Pelotas; e o “homem forte” do exército, o maçon, Marechal Deodoro da Fonseca.

Tal Manifesto tem o cuidado de preservar a imagem do Imperador, Pedro II, o qual encontrava-se bastante adoentado; além de muitíssimo respeitado por todos.

Apesar do governo reconsiderar as punições, o descontentamento continuou nas fileiras militares. Diversos oficiais deliberaram um levante para o dia 20 de novembro de 1889, quando a Assembléia estaria reunida. São momentos tensos e desafiadores, principalmente com a imprensa atacando violentamente a monarquia.

Os republicanos convencem Deodoro a chefiar a Revolução; oficiais superiores do exército e da Armada garantem a adesão. Para piorar a situação, na tarde do dia 14 de novembro o Major Frederico Sólon Sampaio propaga a falsa notícia de que o Gabinete determinaria a prisão de vários oficiais, entre eles Deodoro e, ainda, Benjamim Constant. Os quartéis se inquietam; o movimento precipita-se!

O maçom Marechal Floriano Peixoto, destitui o Ministério do Visconde de Ouro Preto. 

Floriano, sendo monarquista, não idealiza a República, mas líderes republicanos o convencem a levar a Revolução às últimas consequências... e ele o faz, conquistando a alcunha de Chefe do Governo Provisório. A República está instalada!


A REPÚBLICA



 Segundo vários autores, os maçons (desde as primeiras Lojas) introduzem no Brasil, o ideal republicano.

Todas as reações cívicas, coordenadas pelos maçons, em especial a Inconfidência Mineira (1789) e a Revolução Pernambucana (1817), visavam a Independência, sob regime republicano.

O QUE TODOS SABEM: Com o golpe militar que depôs Dom Pedro II, o Brasil deixa de ser um Império. A partir do ato simbólico da Proclamação da República do Brasil pelo Marechal Deodoro da Fonseca, formalizado em 15 de novembro de 1889, um novo tipo de regime é estabelecido e, assim, surge um novo período da história brasileira denominado Brasil República que perdura até hoje.

O QUE POUCOS SABEM: O Marechal Deodoro da Fonseca, além de tornar-se Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, ocupou 34 dias depois, também a cadeira de Grão Mestre Geral, da Maçonaria brasileira.


  • A primeira reunião ministerial da República deu-se no Palácio Maçônico da Rua do Lavradio (na Lapa-RJ). Todos os ministros, sem exceção, eram maçons.

CURIOSIDADES: Na mensagem oficial ao Imperador D. Pedro II, destituindo-o como monarca, o Marechal Deodoro da Fonseca dá explicações formais e faz, nas entrelinhas, um quase pedido de desculpas (ao seu admirado amigo, em respeito e de coração).

A Resposta do Imperador

Em poucas linhas, D. Pedro de Alcântara serenamente acusa o recebimento da carta de destituição governamental e afirma que partirá, com toda a família para a Europa, conforme a recomendação do Governo Provisório Republicano, e mais...

  • que esforçou-se por quase meio século em ser o melhor Chefe de Estado possível;
  • que conservaria do Brasil a mais saudosa lembrança; e
  • que fazia ardentes votos para a grandeza e a prosperidade da nação.

... Um louvor de educação, de bom senso e de placidez!

Provavelmente o monarquista Deodoro da Fonseca, tenha chorado; se não fisicamente (... ou publicamente: um horror para época), no recôndito mais íntimo do seu ser.

Com a participação da Maçonaria na modificação do pensamento político das populações, levando-as a aceitar ideias e princípios novos, morre o antigo Império brasileiro, tornando-o em República Federativa dos Estados Unidos do Brasil.


*Paulo Roberto Portela

CEO da Medikus Sistemas de Saúde (e fundador do Base Social; apoio emocional a trabalhadores e seus familiares)

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“São advogados, artistas, padres, marechais e barões. Almirantes, diplomatas e jurisconsultos. Políticos, comendadores, e generais. Botânicos, médicos, desembargadores, cocheiros e poetas. Professores, senadores e jornalistas. Marqueses, viscondes e atores. Naturalistas, empresários e escritores. Engenheiros, magistrados, pastores evangélicos e filósofos. Imperadores, geógrafos e bispos...

Construtores históricos, anônimos e ‘discretos’ da sociedade brasileira!!!!!”


Fontes consultáveis:

. M. Gomes: “A Maçonaria na História do Brasil”;

. M. Gomes:  “Manual do Mestre Maçon”

.Varnhargem: “História da Independência do Brasil”;

. Pedro Calmon:  “História da Civilização Brasileira”;

. Jorge Caldeira: “Irineu Evangelista de Souza, Barão de Mauá”;

. Gustavo Barroso: “História Secreta do Brasil”;

. Viriato Correa: “Contos da História do Brasil”

. Antonio da Rocha Almeida: ‘Vultos da Pátria’;

. Leandro Narloch: “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”

. Professor José Iran Ribeiro; livro historiográfico, “ O Império e as Províncias: Estado e Nação nas Trajetórias dos Militares do Exército Imperial no Contexto da   Guerra dos Farrapos”;

. Nelson Câmara: “O Advogado dos Escravos, Luiz Gama”;

. Nelson Câmara: “ A Camélia Branca”;

. Nelson Câmara : "Anita Garibaldi, Paixão e Luta"; 

. Revista “Tiradentes/História em foco”, da Editora Alto Astral

https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19831126_declaration-masonic_po.html

https://www.infosbc.org.br/site/artigos/3732-os-macons-nao-estao-excomungados

https://sol.sapo.pt/artigo/696798/grao-mestre-do-gol-cita-papa-francisco-nao-basta-ter-um-trabalho-e-preciso-que-seja-decente

http://www.minutonordeste.com.br/blog/everaldo-damio/153/imprimir/242

http://infes.uff.br/wp-content/uploads/sites/147/2019/06/DISSERTA%C3%87%C3%83O-SAMUEL-VIEIRA.pdf

https://www.pravaler.com.br/proclamacao-da-republica-tudo-o-que-voce-precisa-saber/#:~:text=E%20foi%20com%20a%20exig%C3%AAncia,a%20Rep%C3%BAblica%20Federativa%20do%20Brasil.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Bento_XVI

https://www.noesquadro.com.br/simbologia/estrela-flamigera/#:~:text=A%20Estrela%20Flam%C3%ADgera%20representa%20as,retid%C3%A3o%20que%20leva%20%C3%A0%20Verdade.

https://lojabrasil.mvu.com.br/site/protocolo-de-recepcao-e-tratamento-de-autoridades-/Ni0bViWoarg-3/atr.aspx

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ma%C3%A7onaria

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_ma%C3%A7onaria

https://g1.globo.com/mundo/noticia/o-que-e-a-maconaria-e-por-que-ela-esta-rodeada-de-misterio-e-polemica.ghtml

https://www.gob.org.br/palacio-do-lavradio/




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