MADAME MAO CHIANG CHING
“ A dama Vermelha”
– Poder, sexo e conspiração na República Popular da China –
(*) Por: Paulo Portela
Não é fácil escrever sobre Chiang Ching.
Sua história, ainda hoje, sofre um processo de repressão informacional para as suas posições existenciais e ideológicas (sob absoluta negação do atual Partido Comunista Chinês).
Entretanto, antes de receber a sua sentença de morte em janeiro de 1981(posteriormente comutada para prisão perpétua), ela pediu para que a sua filha com Mao Tsé-tung, Nah, escrevesse a sua história, com base em cartas por ela elaboradas; numa tentativa de que não fosse esquecida.
Seu desejo era que o futuro povo chinês continuasse a lhe idolatrar. Mas Nah recusou obedecê-la, sob palavras duras e indignantes: “Mãe, você não é uma heroína! Você é uma mulher miserável, louca e doente. Como meu pai disse, você cavou tantos túmulos que não tem cadáveres suficientes para enterrar neles”.
Tais cartas, entretanto, ao expressar a visão da Chiang Ching, como partícipe, sobre inúmeros fatos ocorridos: antes, durante e depois da Revolução Popular Chinesa, são de uma importância histórica testemunhal, sem precedentes.
Senti-me diante do absurdo mental, onde o fascinante também é assustador.
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De forma pessoal, ‘conheci’ Chiang Ching por mero acaso. Sou verdadeiramente fanático por personagens os quais, de maneira direta ou indireta ‘formaram’ o que sou; o que não sou (e, principalmente, o que eu não gostaria de ser).
Acostumado a ‘garimpar’ revistas empoeiradas especializadas em resgates históricos, me deparei com a sua ‘vida’. Revelo que paguei algo como R$ 1,00 pela mesma (sob um sorriso tão simpático quanto aliviado, da atendente) e que, conhece-la, me foi tão envolvente que logo a seguir busquei ler o que pude a respeito, a ponto de escrever uma peça de teatro (musical) sobre a sua vida, em 2013. O qual, à época, denominei de “Teatro-Documentário” (ou Teatro Acadêmico).
O artigo a
seguir, “caminha” pelos diálogos dos personagens na cronologia da peça, mas de
forma textual (um exercício que eu
jamais havia feito antes).
Baseei-me no que foi possível encontrar (incluindo suas cartas e algumas pesquisas na internet), tendo por referência principal o livro ” A construção de Madame Mao”, de Anchee Min (escritora chinesa, sediada nos EUA). Além de algumas passagens do Livro “A Vida Privada do Camarada Mao”, escrito por Li Zhisui, médico pessoal do Presidente num trabalho de quase 24 horas por dia.
No livro, o Dr, Li (o qual jamais posiciona-se como herói) revela que em 22 anos de intimidade profissional com Mao, atribui a sua sobrevivência ao cuidado de só abrir a boca para falar o que Mao queria ouvir. Assim, ele viveu para contar algumas histórias que só ele sabia.
(Da minha parte, quando escrevo, busco fugir de qualquer juízo de valor. Apenas me interessa a história, do jeito mas próximo possível da sua realidade. As conclusões, entendo, devem pertencer a foro íntimo)
Com sinceridade, desejo que as leitoras e leitores desse artigo, se deslumbrem pela ‘quase surrealidade’ de uma existência humana. Uma existência a qual um dia muitos tenham sonhado, mas que, talvez intimamente, jamais gostariam de alcançar.
“O templo não tem monge.Por isso o chão será varrido pelo vento.O templo não tem velas.Por isso a luz será acesa pela lua”Templo de Confúcio- em Shandong, China –
QUEM FOI A “IMPERATRIZ VERMELHA”
A trajetória
de Chiang Ching confunde-se com os rumos políticos da China.
Suas ambição desmedida e crueldade implacável na perseguição dos seus inimigos pela sucessão de Mao, tornaram-se marcas indeléveis do seu espírito. Tal característica personal, foi responsável pelas mortes de dezenas de milhões de pessoas.
Ao longo da vida, teve inúmeros amantes (a grande maioria por ela admitidos).
Uma mulher de concepções feminista e feminina, a qual desprezou quem a amou e amou quem a desprezou.
A sua história assemelha-se à história da China: longa e psicologicamente complexa... muito complexa.
Durante quatro décadas foi a mais admirada, respeitada e temida dama de toda a China.
Pela influência exercida sobre uma nação, foi a mais poderosa mulher de todo o planeta, no século XX .
(Para ela, Napoleão foi um homem de visão; com 150 anos de antecedência ele previu: “deixem a China dormir; se ela despertar, o mundo estará perdido”. E realmente acreditava que ajudou a despertar a China)
Obstinada, passa fome e frio nas ruas de Xangai para tornar-se uma atriz famosa do cinema oriental.
Ainda muito jovem trai o Juramento Comunista e entrega todos o seus companheiros, incluindo o maior amor da sua vida; Yo Qiwei (a traição apenas é descoberta, e tornada pública, cinquenta anos depois).
Estratégica e sedutora, conquista o coração de Mao Tsé-tung quando ele ainda era uma lenda popular em formação.
Com suor, sangue e lágrimas, esteve ao lado de Mao na derrubada do ditador Chiang Kai-sek, ao participar da tomada da China pelo Exército de Libertação Popular.
Encontrou-se ativa no “Grande Salto Adiante”. E, pelas suas próprias palavras, idealizou e coordenou a “Revolução Cultural”.
Suas ideias voltadas para o culto à personalidade de Mao Tsé-tung dão certo, a ponto de, em poucos meses, Mao se tornar... uma nova religião!
(Uma das mensagens não deixava dúvida: “O Maoísmo é a maior e única teoria do Partido Comunista Chinês!”)
Naquele momento (segundo a própria Chiang Ching), Mao possuía tanta autoridade quanto um imperador da dinastia Ming.
Incomodada pelo fato do presidente possuir amantes fixas e inúmeras virgens, altamente selecionadas; ouve do Camarada Kang Seng (Chefe da Segurança Nacional da China e do Departamento de Inteligência): “Você é uma imperatriz e não outra vagina!
Seu verdadeiro amor não é Mao, mas o
imperador cujas roupas ele veste!”; e
tais palavras a consolam, por representarem a verdade.
Mesmo quando indagada sobre o fato do “Grande Salto Adiante’ e a Revolução Cultural” haverem, juntas, produzido mais de 70 milhões de mortos (algo como 3% da população mundial, em 1940), sua posição careceu de ‘mea culpa’, além da estarrecedora resposta: “foi necessário!!!!!!”.
Poderosa, conspirou contra os maiores líderes do Politburo Chinês.
Criou a Guarda Vermelha, onde jovens obcecados pelo seu comando surravam pessoas até a morte, destruíam prédios e sequestravam líderes políticos do Comitê Central, às dezenas.
Criou falsas provas e mandou prender, torturar e matar inimigos indesejáveis. Dentre eles, muitos dos maiores intelectuais da China moderna.
De visão existencial residente no idealismo...e na luta pelo poder, provavelmente ela entendia que o idealismo até poderia conduzir à morte, em Glória; mas apenas o poder seria capaz de vivenciar o Olimpo... em vida.
Já idosa e presa por 15 anos, se ressentia pelo fato de Mao Tse-tung, ‘O Timoneiro’, ser considerado um deus e ela... injustamente um demônio.
AS INFÂNCIA e
ADOLESCÊNCIA
Filha de uma
concubina com um negociante agressivo e alcoólatra, sofreu demais na primeira
infância; a ponto de, ainda criança, jurar que mataria o pai com veneno de
rato.
Não foi necessário, pois sem dinheiro e com fome, a sua mãe fugiu para a casa dos seus avós e em seguida a abandonou para viver uma aventura amorosa.
Seus ‘novos criadores’ moravam em Jinan, capital da província de Shandong, berço de Confúcio, com templos magníficos e grandes casas de óperas, onde algumas funcionavam também como bordéis. Seu avô, lhe ensinou tudo sobre óperas e ali começou a sua paixão pelo teatro.
Sonhava, noite e dia, com os personagens das histórias antigas e as suas heroínas rebeldes. Mulheres que lutavam ferozmente pela felicidade e a alcançavam, como nas óperas bufas de Rossini.
AS MUDANÇAS E A TRAIÇÃO
Para ser a heroína que vence no teatro, foge de casa. Passa fome e frio. E mesmo com piolhos na cabeça e as roupas de baixo cheirando mal, consegue uma oportunidade através ex-diretor da Academia de Belas Artes de Jinan, Sr. Zhao Taimo. A sua vida começa a mudar principalmente ao conhecer seu sobrinho, Yo Qiwei. Através de Yo ela é apresentada aos primeiros jovens revolucionários: idealistas e apaixonados pela China.
Decidida a alçar maiores voos, viaja para o maior centro de artes do país. Os letreiros de Xangai a encantam: “Escova Johnson; Sabão Britânico; Batom Rosado Veludo Francês... “.
Sem trabalho mas possuindo uma alma com senso de propósito, distribui panfletos anti-japoneses pela cidade, leva peças nacionalistas para as ruas e, à noite, prega o marxismo.
É presa e torturada!
Tendo por opção apenas a morte, trai os juramentos comunistas e entrega todos os companheiros, incluindo o seu amado.
Alguns pesquisadores afirmam que, posteriormente, ela se empenha em destruir os vestígios de seu passado, eliminando as testemunhas, algumas mortas sob tortura . Seus ex-carcereiros desaparecem.
(Por ironia, no futuro Yo Qiwei, um sobrevivente à delação, se torna o administrador de Mao Tsé-tung, porque ela assim desejou, talvez como uma espécie de redimissão).
O SUCESSO
A jovem atriz Lang Ping (futura Chiang Ching) em 1935
Após ser
solta consegue um teste para a representação de “Casa de Bonecas” do norueguês,
Ibsen.
O diretor era nada mais nada menos que Zhang Min, um grande mestre do teatro que estudou na Rússia.
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Henrik Ibsen
Suas palavras:
“Ainda
durante o teste o Sr. Zhang Ming empolga-se e me dá instruções:
“Suavize um pouco o tom...; não bata no peito,
é muito afetado; dê algum tempo; mantenha a tensão; vire a cabeça para a
janela, em seguida para a porta. Agora fale!!!!”. “Oh, Torvald, não sou sua filha”.
Conquistei o
papel!”.
Aquele foi um
momento muito significativo na sua vida porque, na ausência de Yo Qiwei, se
apaixona pelo ator principal, Zhao Dan, um dos maiores e mais bonitos atores do
cinema chinês. Torna-se sua amante mas ele a rejeita.
(No futuro, ele
pagará pelo desprezo. Durante 15 dias a Madame Mao ordena que ele fique preso
em uma cela com menos de
- completamente
enterrada em um buraco -, alimentando-se duas vezes por dia com mingau de
aveia. As suas orgulhosas palavras ao citar o fato são: “Ao sair, Dan não
conseguia caminhar uma quadra”)
Neste período conhece Thang Nah, um crítico de teatro de muito bom gosto e que falava inglês. Thang Nah a fascina com seu senso de cultura e se casam, mas o casamento dura pouco. Chiang Ching pede o divórcio e, Thang Nah, tenta o suicídio duas vezes, sem obter êxito, mas, por isto, ela constrói inimigos.
(Um destes inimigos era o respeitável diretor de cinema Junli. Trinta anos depois, ainda com raiva pelas tentativas de suicídio do melhor amigo, ele começa a escrever criticando a Madame Mao, então ela decide mandar a Guarda Vermelha destruí-lo. Ele é espancado até a morte!)
INVASÃO JAPONESA
No verão de
1937 os japoneses invadem a China. Na realidade, desde a Guerra do Ópio em
1858, os melhores empregos, as mansões particulares e as fábricas já pertenciam
aos japoneses. Trazendo enorme revolta aos chineses.
As casas de espetáculos e os cinemas são fechados.
Indignada ao ver
a bandeira japonesa tremulando no prédio mais alto da cidade, Chiang Ching decide
pegar um trem para a Província de Shanxi, noroeste do país. Vai para Yenan,o
território de guerrilha, o coração do Partido Comunista e do Exército Vermelho.
Ao chegar em Yenan, percebe que é um lugar no meio do nada: o oposto de Xangai. Mas, decidida para lutar pela China!
Apesar de não haver dinheiro para nada e as pessoas se alimentarem de grãos silvestres, os camponeses mandam seus filhos para o Exército Vermelho, eles são liderados por Mao Tse-tung,... a quem todos chamam de Presidente.
Mao Tsé-tung mora em uma caverna, como um homem pré-histórico. Sua cama é feita de tijolos semi-cozidos. Seus soldados o idolatram e por ele matam e morrem.
Verdadeiramente um herói da guerrilha que liderou a “Grande Marcha”, em 1934, combatendo com louvor as tropas de Chiang Kai-shek, mesmo com menos de 10% de homens, comparando-se ao inimigo.
Um apolo que com a força das suas palavras e com táticas de guerra consideradas inadequadas e selvagens pelos russos, fez seus homens acreditarem que era possível sobreviver comendo cascas de árvores..., relva..., e ratos.
Homens que sabiam possuir armas primitivas, mas que tinham a plena consciência que estavam sendo liderados.. por um deus!
Segundo a própria Chiang Ching: “... em Yenan, a maioria dos habitantes nunca viram um vaso sanitário e nunca tomaram banho; a não ser quando nasceram, casaram ou morreram. Poucos sabem a data do próprio nascimento ou onde fica a capital do país.
Noto que até os oficiais de alta
patente cospem no chão, enfiam os dedos na boca para tirar a comida enquanto
falam, e expelem gazes sonoros sem qualquer constrangimento.
Confesso que esta cultura me enoja!
No Yenan, ser comunista é uma religião!”.
Também é lá que encontra o homem mais inteligente que ela já havia conhecido.
(uma inteligência pessoal sobrepujante à ‘causa’)
Com um peculiar conhecimento sobre artes gerais, este homem tornou-se famoso por escrever com as duas mãos.
Decididamente, Kang Sheng era genial!
Educado na Rússia pelos stalinistas, transbordava mistério.
Sempre longe dos focos das luzes, o domínio sobre a estrutura humana lhe pertencia.
(No futuro, com o apoio da Madame Mao, Kang Sheng se torna o Chefe da Segurança Nacional da China e do Departamento de Inteligência)
O homem que um dia representou a maior confiança de Mao e por ele era chamado de “dentes de aço enfiados na carne da República”, era pura conspiração.
Como uma sombra invisível ele abraçava toda a China. Para ele não haviam segredos ocultos.
A sua característica fundamental era... a onisciência!
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Astutamente
ao perceber a importância política de Kang, na comunidade, Chiang Ching o
procura para pedir conselhos. O mais importante conselho que ele lhe deu foi: “participe do grupo de ópera de Yenan.
Eles são amadores quando cantam e representam. Você vai se destacar!”
Na verdade não foi um conselho, para a sua inteligência às vezes inatingível, foi uma instrução!
As palavras de Chiang Ching são reveladoras: “Me destaquei tanto que Mao, quis me conhecer... e conheceu. Diante de mim, apareceu o mito!
Mao era um típico camponês do Yenam,
com toque de artista moderno. Olhos amendoados e pálpebras com a dobra
oriental; lábios cheios e pele macia.
Um homem de meia idade, confiante e
forte.
... Parecia o Buda!”
Dizem que o poder é sedutor, mas para ela foi muito além de arrebatador...sentiu-se devastada!
Sob um absurdo encantamento, ‘estratégico’; decide que ali estaria o seu futuro.
O DISCURSO DE MAO
Dias depois
Mao fez um discurso para o seu Exército.
Com a capacidade de um orador que hipnotiza sua plateia, ele começa:
“Camaradas!
Como vamos indo com as ervas daninhas que
crescem em seus estômagos?
Eu tenho limpado o meu. Tem sido muita
coisa para arrancar e limpar.
...Os dogmáticos se
dizem verdadeiros revolucionários. Ocupam lugares importantes no nosso
Congresso mas tudo que fazem... é falar de Stálin. ...São aranhas com rocas
quebradas – não mais produzem fios de teia, são inúteis para a Revolução.
Falam como Karl Marx mas
ajudam Chiang Kai-shek. ...fazem, aqui, experiências
sociais às nossas custas.
... A verdade,
camaradas, é que estamos perdendo nossos homens, cavalos e membros da família,
por causa da direção errada que fomos obrigados a seguir.
...Devemos parar de caminhar para o
túmulo!”
De repente a plateia de soldados e soldadas irrompe aos gritos e aos aplausos!!!!
Aquele homem ‘irreal’ foi talhado por suas posturas ousadas e personificadas.
A essência do seu discurso não deixava dúvidas. Parte do Comitê Central Chinês exaltava Stálin e em muitos momentos eram os russos que decidiam onde atacar, muitas vezes às custas de milhares de vidas.
Concebe-se, para aquele momento, uma expressão em russo denominada “ебу они умрут. Если вы не умирают, мы будем победители, потому что мы создали”, e que significa: “Foda-se, são eles que morrerão! Se não morrerem, nós seremos os vencedores, pois nós os criamos”.
... Mas em Mao Tse-tung, os russos não mandavam...!
Talvez por falta de confiança: na “Grande Marcha” ele seus homens foram abandonados pelos russos.
Ele se comportava como um tigre indomável, seguindo os seus próprios instintos!
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Após o
discurso, Chiang Ching idealiza um plano fantástico para me aproximar de Mao:
disse ao camarada Kang Sheng que estava
encantada com as palavras do Presidente Mao, porém teve dificuldades para
compreender certos assuntos. Então lhe pede para conseguir um encontro pessoal
com o Presidente.
Provavelmente Kang Sheng jamais havia visto uma mulher com tamanha obstinação!
Três dias depois o encontro estava marcado, na caverna de Mao. Suas palavras ao recebe-la foram magnânimas e proferidas com a doçura de um cavalheiro: “Como Confúcio disse, devemos ter prazer em ensinar. Minha porta está aberta para você”
Falaram sobre diversos assuntos, inclusive da “Grande Marcha”.
Assim Chiang Ching relatou o encontro:
“Não parei de fazer perguntas sobre a
sua vida... e seus sonhos!
Sonhos que passaram a ser meus, tanto
quanto dele.
Mao era ao mesmo tempo um homem
rústico e intelectualizado. Gostava de poesias e já havia lido os livros “A
História das Riquezas das Nações”, de Adam Smith e “Origem das Espécies”, de
Charles Darwin, além de todos os livros sobre ética de John Stuart Mill... livros que jamais consegui passar da página dez.
Nos apaixonamos de forma profunda... então, convicta dos meus objetivos e absolutamente cega de paixão, decido me entregar para o bandido mais procurado de toda a China... aquele a quem chamam de Presidente”.
Foto de 1937, em Yenan: Chiang Ching e
Mao Tsé-tung
... Tornaram-se amantes.
Em um dos seus encontros a caverna de Mao é bombardeada pela força inimiga e ele precisa mudar de esconderijo às pressas. Ele a chama para segui-lo mas ela fica indecisa.
Na verdade se sentia culpada por Mao ser casado com Zi-zhen (e com esta possuir seis filhos), uma heroína da causa e admirada por todos os comunistas.
Percebendo a sua indecisão, ele grita:
“Pelos céus! Você tomou meu coração. Pedra por pedra derrubou minha cidade!
Atenda ao meu pedido, mulher!
Prometo faze-la tão feliz, quanto você
me fez”.
Fragilizada diante de tão lindo ‘poema’, decide acompanhar Mao, enquanto vê seus guardas costas implodirem a caverna, com sua cama de tijolos semi-cozidos, maldizendo e ironizando Chiang Kai-sek;
“fique com esta caverna, seu infame. Você jamais conseguirá pegar Mao Tse-tung, nosso Presidente”
Mao e Chiang Ching já assumidos,
publicamente
Algum tempo
depois, o controle do Comitê Central, substitui seus desafetos Wang Min e Zhang
Guotao.
Moscou passa a reconhecer Mao como o grande líder!
Chiang Ching revela em uma de suas cartas:
“Então, sem que eu deseje, uma nova etapa começa na minha vida. Wang Min, o inimigo político de Mao, passa a ser julgado por seus crimes políticos e o camarada Kang Sheng, um dos seus conselheiros, cai em desgraça.
A raposa Kang Sheng, no entanto,
sempre tem muitas cartas na manga. Ele me chama para informar que os seus
espiões descobriram que, no passado, traí o Partido.
Sua proposta foi direta: “eu tenho os
documentos e as gravações e você... o amor de Mao!”
Firmei uma sociedade com o aprendiz de
Stálin que durou 52 anos... 52 anos de parceria e... vampirismo, dos dois
lados.
(alguns pesquisadores
afirmam que se tornaram amantes, entretanto, se ocorreu, ela omitiu tal fato em
suas cartas)
Mao passa a confiar em Kang Sheng de
forma absoluta.
Com Mao e o Camarada Kang Sheng
aprendi tudo sobre política e conspiração.
Estes foram os dois homens mais
brilhantes da minha vida.
Verdadeiros assassinos com aparência
de Confúcio.
Dois homens que criaram quem sou... e
eu os criei!”
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Ganhando
batalhas e com a autoridade de quem salvou o Exército Vermelho do cerco do
inimigo na “Grande Marcha”, Mao desafia o Comitê Central exigindo o divórcio de
Zi-zhen e autorização para casar-se com Chang Ching.
A verdade é que Mao sempre foi um espetáculo assustador para seus camaradas, oponentes ou inimigos: embriagador ou apavorante!
Com dificuldades e enorme desgaste político, Mao consegue um acordo e ela se torna... Madame Mao Chiang Ching.
(algum tempo depois, não necessariamente por conta da separação acredita-se, Zi-zhen passa a ter problemas mentais e é enviada para tratamento em Moscou)
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Meses após o novo casamento, Mao produziu as mais famosas obras de sua vida, entre elas: “Táticas Básicas de Batalha – Pensamentos Sobre Guerrilha e Sobre a Guerra Prolongada”.
As opiniões de Mao fascinavam a nação. O número de recrutas do Exército Vermelho passou a crescer de forma vertiginosa.
Apesar do equipamento militar de Chiang Kai-shek ser fornecido pelos EUA e considerado o mais avançado do mundo e o Exército Vermelho só possuir armas obsoletas; Mao os liderava... e isto fazia toda a diferença.
Furioso, Chiang kai-shek entra em contacto com Adolf Hitler, pedindo conselhos militares e ordenando a eliminação completa do comunismo.
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| Chiang kai-shek |
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| Adolf Hitler |
... Mas Hitler tinha preocupações mais emergenciais: a 2ª. Grande Guerra!
É nesta época que nasce Nah
Os
sacrifícios são enormes. Sem qualquer estrutura minimamente básica, moravam em
um estábulo, junto com mulas e piolhos.
Era um paradoxo, mas aquele estábulo representava o Quartel General de um dos maiores conflitos da história humana!
Finalmente em novembro de 1948, com os gritos alucinados dos soldados “ por Mao Tsé-tung e pela China!” o Exército Popular da Libertação derrota o inimigo... e a China é conquistada!
A Cidade proibida
Da noite para
o dia, suas vidas modificam-se totalmente e se mudam para a Cidade Proibida.
Mao leva dias para se adaptar ao novo e majestoso espaço; um palácio projetado na dinastia Ming.
Didaticamente, Madame Mao assim descreve:
“Ele nunca havia se sentado em um
sofá; o mesmo se dá com o ‘toalhete’, ele prefere se agachar como um cão!.
Passamos a ter vários jardins para
passear e diversos ‘chefs’ de cozinha e criados à nossa disposição. No entanto,
há muito tempo não mais havia afeto entre nós.
Mao passa a ter várias amantes,
escolhidas a dedo pelo Camarada Kang Sheng.
Muitas são virgens!
Fico impressionada com aquelas
mulheres. Mao adquiriu uma sífilis e as contamina de forma irresponsável...
Elas orgulham-se, publicamente, de estarem doentes. Como se carregassem um
filho do imperador!
O Camarada Kang Sheng me consola e
orienta: “Você é uma imperatriz e não outra vagina!
Seu verdadeiro amor não é Mao, mas o
imperador cujas roupas ele veste!”.
Kang Sheng fala em tudo que acredito,
mas me nego a esquecer o momento em que me apaixonei!
Apesar de viver como uma imperatriz,
não tenho importância na causa comunista... e Isto me entristece!
Torno-me prisioneira dentro do meu
próprio palácio e das minhas antigas aspirações.
Agentes do departamento de Relações
Públicas de Moscou, com seus narizes vermelhos de batata, me tratam como se eu
fosse a concubina abandonada de Mao.
O sentimento de vazio me absorve... e
revolta!
Fica claro para mim que o meu marido
não percebe tamanhos sentimentos agonizantes.
Ele tem uma nação para administrar!”
(a versão de Li Zhisui é bastante similar à de Chiang Ching, excetuando-se em relação à sífilis. No seu livro ele revela haver sido Tricomoniase; uma patologia de contágio pelo ato sexual, onde o homem nada sente mas que causa enorme sofrimento nas mulheres infectadas)
O GRANDE SALTO ADIANTE
A Propaganda
O Resultado
Neste
período, Mao idealiza o Movimento “O Grande Salto Adiante”.
Seu objetivo era inegável: tornar-se o maior governante de todos os tempos, empurrando a China para o topo dos recordes de produtividade, como jamais se viu.
As terras particulares foram tomadas e passaram a pertencer ao Governo. A produção de grãos, em todo o país, tornou-se coletiva, anulando-se o conceito de individualidade.
(O mais essencial posicionamento comunista, idealizado por Karl Marx e outros sociólogos, no século XIX)
O “Grande Salto” foi a exata forma de pensar de Mao Tse-tung. Ali, provavelmente, estava tudo em que acreditava e pelo que havia lutado por toda a vida.
Inicialmente todos apoiaram a sua visão, mas dois anos mais tarde os resultados demonstraram-se desastrosos: passaram a ocorrer muita violência entre ricos e pobres; multidões saquearam depósitos e abrigos. Tudo foi consumido, até as sementes para o plantio da primavera.
Os distúrbios tornaram-se tão sérios que ameaçaram a segurança nacional.
Centenas de milhares de camponeses fugiram das suas cidades à procura de comida.
Muitos venderam os próprios filhos... e alguns envenenam a família inteira para por fim ao desespero.
O número de mortos atinge o inacreditável patamar de VINTE MILHÕES DE MORTOS!!!!!!!! (alguns pesquisadores afirmam que foi superior a 55 milhões).
Este é, necessariamente, um momento importante para se entender todos os movimentos que norteiam a história da China moderna.
Mao, completamente perdido, decide recuar e o Vice Presidente Liu Shaoqi assume a nação.
Liu Shaoqi e Wang Guang-mei
Liu Shaoqi
foi um gestor admirável!
...Mas seu erro foi reverter as posturas do “Grande Salto...” e mostrar-se eficiente aos olhos do povo.... enchendo Mao de ciúmes.
Entretanto, não era apenas o Presidente que sentia ciúmes... Madame Mao se corroía deles: a bela e sofisticada mulher de Liu Shaoqi, Wang Guang-mei, transformou-se de fato na primeira dama, enchendo-a de angústia.
Numa de suas
cartas ela revela toda a sua inveja e admiração: “... ela até usa um colar de pérolas...”.
Surge, então, a Guarda Vermelha
O momento
estava preocupante, Chiang Ching bem o demonstra com as seguintes palavras:
“Mao passa a ter medo que os seus amigos de antigas batalhas, agora inimigos políticos, o derrubem... e pede ao Camarada Kang Sheng para me ver; quer saber das minhas impressões.
Então percebo no horizonte, a chance
de estar abaixo de Mao, mas acima da nação!
Idealizo a “Revolução Cultural”, onde
a figura de Mao e da Revolução devam ser exaltados em todos os níveis.
Mao encanta-se com a ideia e me mostra
os caminhos a seguir e a quem liderar.
... Além dos meus três assessores
diretos, surge um colaborador impensável; o garoto Kuai Da-fu, ... líder da
Guarda Vermelha!.
Adolescentes absolutamente cegos pela
minha causa!
Nem mesmo as saúvas gigantes da
Mandchúria procriam-se em tantos múltiplos!
Por todo o país, crescendo aos
milhares, eles são facilmente identificados pelo bracelete vermelho com a
assinatura pessoal de Mao Tsé-tung.
Estimulamos ataques aos nossos
inimigos políticos e a partir dali, os intelectuais não mais poderiam usar dos
seus talentos e conhecimentos para atacar o Partido, muito menos a pessoa de
Mao, “O Timoneiro”.
Quem tentou, ou foi preso... ou foi
morto!.
Estabeleço a minha liderança e apareço
para o meu povo.
Sinto-me a idealista incansável e
genial!.
Estudantes de todas as Universidades
decidem apoiar a minha “Revolução Cultural”.
Aonde quer que eu fosse, ouvia
clamores em meu nome:
“Vida longa ao Presidente Mao, Saudações à
Camarada Chiang Ching”
Estou no auge da representação
nacional... e internacional!”.
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Nixon faz viagem histórica à China
As mensagens da “Revolução
Cultural”, ao povo, eram claras:
“A velha ordem deve ser abandonada!”
“Um
trabalhador comum deve poder entrar de graça em um teatro!”
“Um órfão
deve obter o mais alto grau de instrução!”
“O Maoísmo é
a maior e única teoria do Partido Comunista Chinês!”
Crianças, artistas, são recrutadas, selecionadas e treinadas por toda a China
Personagens teatrais são maoístas fervorosos.
Óperas e balés passam a ter cunho revolucionário.
O Manual da Revolução Cultural (o Livro Vermelho) é distribuído em todas as fábricas, nas escolas e nas ruas.
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Gritos de “Protegeremos o Presidente Mao com nossas
vidas”, são ouvidos por toda parte.
Naquele momento, segundo as palavras de Ching Ching, Mao possuía tanta autoridade quanto um imperador da dinastia Ming.
De acordo com
o escritor Ba Jin, as
consequências foram dramáticas: filhos
denunciavam os pais; estudantes agrediam seus professores e forçavam à
suspensão das aulas; chefes torturavam seus subordinados.
Para os dissidentes ou inimigos políticos, anos de injustiças, humilhações e sofrimento sem fim. Alguns destes inimigos foram Liu Shaoqi e a sua esposa Wang Guang-mei,
Liu Shaoqi sendo interpelado por estudantes furiosos, com gosto de sangue nas bocas
Sobre a
desventura do casal, a própria Madame Mao assim descreve:
“Os inimigos
de Mao começam a ser destruídos dentro do próprio Partido.
Liu Saoqi e
Deng Xiaoping começam a perder força política.
...Mas o golpe fatal no
vice-presidente Liu Saoqi fui eu que dei. Estrategicamente procuro Tao, filha
de Liu em casamento anterior.
Eu sabia que ela se ressentia do
divórcio de seu pai para casar com a madrasta, minha inimiga social. Ofereço a
ela a oportunidade de ser maoísta. Dirijo seus pensamentos e a pressiono.
Mostro-lhe que procede a revolta
contra seu pai... e começo a domina-la por sugestão:
“Ele a abandonou!
Permitiu que uma outra mulher dormisse
na cama que pertencia a sua mãe!”
Consigo convence-la a discursar no
comício da manhã seguinte e a falar com clareza:
“Meu pai é promotor do capitalismo! Isto
mesmo, promotor do capitalismo!”
Ela age exatamente de acordo com as
minhas orientações e faz o discurso sobre o título: ‘A alma do demônio – denunciando meu pai Liu
Saoqi’
O efeito foi como eu esperava, a
história de que os Liu eram corruptos se espalha como folhas num vendaval. O
casal Liu passa a ser descrito como traidor e agente ocidental, desde seu
nascimento.
... Entretanto o meu plano ainda não
estava completo, dando seqüência às minhas ações de destruição de Liu Saoqi e
sua mulher Wang Gang-mei, procuro alguém que testemunhe contra Liu
oficialmente, provando que ele é um traidor a serviço de agentes estrangeiros.
Digo à minha equipe de investigadores
que pouco importa se Liu é ou não um traidor. Eles precisam conseguir provas e
produzir testemunhas.
Mas a verdade é que isto torna-se
impossível pelas vias naturais. Tenho que reconhecer que Liu era um homem
voltado para a causa revolucionária e jamais a traiu.
O Camarada Kang Sheng, o veneno negro,
não tem dúvidas de como conseguir a confissão. Ele me diz:
“Comunista ou não, nenhum estômago
suporta a água apimentada. Existe ainda um meio de abrir as mandíbulas:...
quebrando os ossos!!! Você terá as confissões assinadas e as publicará como
melhor lhe convier”.
Fiz conforme o recomendado!
Em 26 de março de 1968, minha equipe
encontra um amigo de Liu Saoqi, Wang Shi-yin.
Aquele homem estava morrendo de câncer
no pulmão, um verdadeiro esqueleto humano que respirava; mas ele era perfeito
aos meus propósitos.
Tudo que acontecia naquela sala de
tortura era gravado e, em seguida, me entregue para que eu ouvisse.
“quebrem o pescoço dele se for preciso. E se o
indivíduo morrer, interroguem seu espírito”. Ordenei!”.
Mesmo sem o testemunho oficial (o torturado não resiste e morre) Liu é declarado traidor disfarçado e expulso do Partido Comunista na Convenção de 1968.
A sua mulher Wang Gang-mei é presa e humilhada em praça pública.
Seu filho mais velho foi espancado até a morte num comício; suas três filhas foram para a prisão ou exílio forçado; e seu melhor amigo Deng Xiaoping mandado para um campo distante de trabalhos forçados.
Sobre o
ocorrido, as palavras da Dama Vermelha foram:
“Algum tempo depois acompanho Mao tomando chá de crisântemo, no seu Palácio.
Fico surpreendida!
Com a impassividade de um autista, Mao
fuma e lê o relatório da morte de Liu sem esboçar qualquer sinal de
arrependimento ou remorso. Afinal Liu foi um grande companheiro de luta na
guerrilha e sempre lhe foi fiel.
Talvez fosse capaz de dar a sua vida
pelo “Timoneiro”.
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O caos se
estabelece em toda a China!
Sempre em nome de Mao, estudantes fazem fogueiras nas ruas e fecham as escolas.
A situação foge do controle governamental.
Os estudantes começam a atacar pedestres, pelo simples fato de estarem bem vestidos.
A polícia também é atacada e paralisada por ser tida como “máquina reacionária”.
Estudantes e trabalhadores formam facções e começam a atacar uns aos outros pelo controle dos territórios.
Os “Guardas Vermelhos” ficam ainda mais descontrolados: sequestram e mantém como reféns mais de 50 membros do Congresso, entre eles o Prefeito de Pequim e o ex ministro da defesa nacional Luo Rei-qing; aos gritos:
“ O ensinamento de Mao é a verdade”.
Ao final,
Estima-se mais de QUARENTA MILHÕES DE MORTOS na nação chinesa!
A economia do país estaciona!!!
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O ÚLTIMO INIMIGO
Chiang Ching começa a nutrir o sonho de substituir Mao, após a sua morte. Mas ainda restava um último inimigo: Lin Biao, ministro da defesa nacional.
Seus sonhos parecem caminhar para a realidade e assim ela explica o momento:
“O Marechal Lin Biao? Não sei exatamente o que ele faz. Seu único trabalho parece ser bajular Mao. Aliás, ele é o maior bajulador que Mao já teve na vida.
Ele usa jatos militares para
transportar lagostas vivas para a cozinha de Mao.
Manda pelotões às montanhas para
procurar as melhores raízes de ginseng para Mao. Determina que tigres sejam
caçados na Mandchúria apenas para que seus tendões sejam utilizados nas
degustações por Mao.
Um dia, porém, as suas ambições
políticas chegam ao limite máximo: ele pede para que o seu filho bombardeie o
trem de viagem de Mao. O ‘tigre que galopa’, no entanto, tinha as suas próprias
estratégias pessoais: mudava constantemente de vagões, para evitar atentados.
... Informado por seus agentes da
traição, e sem que ninguém desconfie, Mao lhe dá a resposta em um cerimonial de
morte: convida o Marechal Lin Biao e sua mulher para um jantar no Palácio... e
eu estava presente. Serve a eles, além de frutos da terra e do mar, patas de
urso fritas; abre uma garrafa de vinho imperial lacrado no vaso original da
dinastia Ming há 482 anos... Mao, pessoalmente, usa seus hashis para encher o
prato de Lin com tendões de tigre caçado há uma semana na Mandchúria.
Sob uma atmosfera agradável, comemos,
bebemos e conversamos sobre assuntos que nenhum de nós consegue compreender,
pelas divagações de um Mao, bastante estranho naquele dia.
... Lin Biao e sua mulher, participam
das suas últimas refeições, pois, ao final, Mao manda seus seguranças...explodirem
o casal.
No dia seguinte, todos os jornais e
rádios da nação retransmitem, o texto cuidadosamente redigido:
“ 15 de setembro de
Lin usou um pequeno avião e voou para
a Rússia depois que seu plano foi descoberto. O avião de Lin caiu na Mongólia
quando acabou o combustível”.
O povo
jubilou-se!
Com Liu Saoqi e Lin Biao fora e Deng Xiaoping no exílio, tudo indicava que na morte de Mao Chiang Ching o substituiria... Mas não foi bem assim. Ela própria explica, a seguir:
“Quanta loucura, mais uma vez o destino insensato me fez ter esperanças inúteis de assumir no lugar de Mao.
Sentindo-se enciumado com o meu
sucesso popular, meu marido decide me anular.
Em julho de 1974, Mao convoca uma reunião
do Congresso no Pavilhão da Luz Púrpura e proclama Deng Xiaoping o novo
primeiro ministro.
Meus inimigos ressurgem das cinzas e
voltam ao poder!
Como se não bastasse, Mao ordena a
imediata dissolução da “Guarda Vermelha”.
Duzentos milhões de jovens brilhantes,
idealistas e intelectualizados são obrigados a arar os campos e cultuar
arroz...
Ainda me recompondo destes golpes
terríveis, Mao divulga um documento público criticando a mim e a minha equipe.
Ele nos chama de “o bando dos quatro”.
A mídia que parecia estar sob meu
controle e lealdade, começa a me destruir.
O título “o bando dos quatro” que, a
princípio, soou como uma brincadeira, transforma-se em um título criminoso.
Deng Xiaoping, meu inimigo mortal,
toma conta da cena e se torna o homem da mídia...”
“... Mas existe alguém que é mais
destruidor que Deng Xiaoping, o Camarada Kang Sheng.
Em estado terminal, com câncer
completo sobre o organismo, ele revela a mensageiros de Mao que sou uma
traidora. Fornece datas, testemunhos e locais da minha traição ao Partido.
Entro em desgraça política e moral!
Mao não me defende. Na verdade não
volta a falar mais o meu nome... apenas recomenda um túmulo para nós dois na
funerária Colina de Ba-bo.
Por que você não fica sozinho no
túmulo, se me odeia tanto?
Mao está cada vez mais velho, louco e
senil!
Sua barriga lembra a de uma lontra e
sua boca já não tem mais dentes, pois ele nunca os lavou. Entretanto, sua
palavra continua sendo a expressão divina!
Ele promoveu Deng Xiaoping... o melhor amigo de Liu Saoqi. Sei que a vingança. a mim, é inevitável!”
Não dura
muito e Mao morre!
Morre o
imperador aos 83 anos!
Em 9 de
setembro de
No funeral do século, Chiang Ching participa também da sua ‘morte’!.
Algum tempo antes, Mao lhe disse: “você será empurrada e jogada dentro do meu caixão”.
A DERROCADA DE UMA
IMPERATRIZ
A viúva de
Mao é escoltada durante audiência judicial, em Pequim, na década de 1980.
Zhang Chun Qiao, Chen Bo Da, Wang Hong Wen, Yao Wen Yuan e Chiang Ching (“O Bando dos Quatro”) durante o julgamento, em 1981.
Chiang Ching
talvez personifique a máxima peremptória: A ideologia acaba onde começa o
poder!
Condenada à
morte, sua sentença foi comutada para prisão perpétua, pelo próprio Deng
Xiaoping.
Na China, por
exigência legal, todos os presos necessitam trabalhar para que suas produções
sejam revertidas em ganhos ao país. Chiang Ching decide fabricar bonecas para
exportação; em algumas delas, escondido, ela colocou escritos sobre a sua vida
e seus pensamentos. Alguns desses escritos foram localizados, algum tempo
depois, em várias partes do mundo, incluindo os EUA.
(Tais bonecas ‘sorteadas’
talvez possuam, hoje, elevado valor patrimonial)
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CHEGOU A HORA DE ESVAZIAR O PALCO!
No mês de maio de 1991, Chiang Ching, a ex-imperatriz da China, suicida-se na prisão domiciliar.
Deixa de existir a personagem mais emblemática da Revolução Comunista. Aquela que o Comitê Central da República Popular busca apagar da memória literária e das mentes de toda uma nação de chineses.
A CORTINA SE FECHA!
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“Deng
Xiaoping, morto em 10 de fevereiro de 1997, abriu as portas do comunismo chinês
para o capitalismo, estabelecendo o chamado ‘Socialismo de Livre Mercado' (**).
Durante a sua gestão, a China transformou-se no país com maior crescimento econômico do planeta e uma das maiores potências industriais dos séculos 20 e 21.
Apesar da sua administração haver realizado grandes avanços para o povo chinês, até hoje a sua figura é bastante criticada pela comunidade internacional pelo massacre de estudantes que pediam democracia, na Praça Celestial, em 1996; e pela falta de liberdade de expressão, a qual perdura, de forma velada, até os dias de hoje.”
*Paulo
Portela: CEO da Medikus Sistemas de Saúde e fundador do Base Social (apoio
emocional a trabalhadores e familiares)
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**
Tecnicamente inexiste “Socialismo de Livre Mercado” pelo antagonismo nas
definições das palavras.
Ao considerar-se que a doutrina Socialista reside na inexistência de classes sociais, na coletivização dos meios de produção e na impossibilidade de haver propriedade privada; antagoniza-se com o sistema de Livre Mercado.
No Livre Mercado, de forma contrária, os agentes econômicos agem de forma livre, com mínima intervenção do Estado; favorecendo o sucesso dos mais aptos (sob reflexos consequenciais tanto econômicos quanto sociais).
A união das palavras, portanto, não se consolida!
A premissa acima pode ser comprovada de forma prática ao analisarmos os números recentes da China. Segundo a “Hurun Rich List” (consultoria privada chinesa), em 2019 a China produziu 5 novos bilionários por semana, com atuais 876 (para a Forbes: 373).
Apenas no parlamento chinês
existem 93 bilionários, dentre os 5 mil delegados. Juntos eles controlam uma
fortuna estimada em US$ 540 bilhões.
(Para efeito de comparação, no congresso americano os 50 mais ricos possuem, juntos, US$ 2 bilhões em patrimônio)
Em contrapartida, apesar da miserabilidade vir caindo de forma vertiginosa na China (tornando-se uma referência internacional no assunto), ela, em 2018, ainda atingia 16,6% de chineses em situação abaixo da linha da pobreza (em torno de 232 milhões de pessoas); e mais da metade da população sofre em condições precárias nas regiões agrícolas e rurais do país.
Mas o dever de casa tem sido feito com certa maestria: de 2013 a 2020, 80 milhões de chineses saíram da pobreza extrema em 832 distritos. E, a China possui o sistema de seguridade social com a maior cobertura do mundo; além de, em pouco tempo, aumentar a expectativa de vida de 35 para 77 anos.
Entretanto, na China de hoje o Livre Mercado é cabível pelo modelo econômico adotado; mas definitivamente não o Socialismo (onde ‘devem inexistir’ diferenças econômicas e sociais entre seus membros e que as oportunidades, sobre todas as vertentes, incluindo a educacional, posicionem-se igualitárias).
Como ouvi de uma estimada amiga, a pouco tempo: “a China não se enquadra em nenhum modelo que já tenha nome”.
... Ou, como certa vez definiu Deng Xiaoping: “...um socialismo com características chinesas”.
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(sobre o)
Teatro-Documentário (ou Acadêmico)
A
ideia essencial desta minha proposta foi trabalhar com o mix de técnicas da
dramaturgia teatral (em seus conceitos básicos) concatenadas à arte do cinema
(através de vídeos produzidos com os mesmos atores ou através de imagens reais
de acontecimentos).
No Caso de “Madame Mao”, especificamente, com a inclusão de espetáculos de ópera e ballet; de forma e expor tal enredo histórico, em de acordo com os sonhos da protagonista(/antagonista).
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Fontes consultáveis:
https://pt.wikipedia.org/wiki/China
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mao_Ts%C3%A9-Tung
https://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/grande-salto-adiante-programa-de-mao-tse-tung-china/
https://www.dw.com/pt-br/1969-fim-formal-da-revolu%C3%A7%C3%A3o-cultural-na-china/a-310858
file:///C:/Users/User/Downloads/237263-117835-1-PB.pdf”
https://www.suno.com.br/artigos/livre-mercado/
https://www.infoescola.com/historia/guerra-do-opio/
https://www.dw.com/pt-br/1971-nixon-anuncia-viagem-in%C3%A9dita-%C3%A0-china/a-319585
https://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2013/12/1390191-mao-tse-tung-biografia-trecho.shtml
https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_Mao_Tse-tung_(1949%E2%80%931976)
https://blocktrends.com.br/china-o-pais-mais-perigoso-do-mundo-para-ser-um-bilionario/#:~:text=Em%202018%20foram%20outros%20182,Forbes%20por%C3%A9m%20eles%20s%C3%A3o%20373.
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