"FASCISTA OU ESQUERDOPATA" - Decida-se ou vc é imbecil



"FASCISTA OU ESQUERDOPATA" - Decida-se ou vc é imbecil

Na semana passada, um estimado amigo, Marcelo Emiliano, me lançou um desafio; escrever sobre "preconceito".

Imediatamente pensei: "bom o tema, mas que moleza, afinal sou zero preconceito" (???).

24 horas depois achei o tema estranho. Mais à frente, sem nenhuma linha ainda escrita, concluí que tratava-se de uma pegadinha.

... E era!

No início, como já revelado, me imaginava acima do bem do mal até receber uma msg por zap, a qual não apenas me incomodou, me fez discordar da sua essência sem qualquer análise crítica culturalmente independente, da minha parte. Com tristeza, concluí que a rejeição à msg foi por... preconceito.

Me senti em uma espécie de angústia existencial, inexplicável. "Caramba, logo eu?".

Ainda sob aflição, comecei a ler o que pude sobre o assunto.

Além do óbvio conceito sobre o tema onde a opinião pessoal desfavorável é determinada sem base objetiva e motivada por hábitos de julgamentos apressados, pude entender, sob novo prisma,  questões cotidianas como aversões comezinhas a pessoas, etnias, opções individuais conflitantes ao 'bom senso' comum, incluindo animosidades políticas.

Também passei a entender o preconceito como resultado de frustações, transformadas em raiva (Allport/1954).

Uma concisa definição, do Professor Fábio Medeiros, me encantou: 

"a ignorância é a raiz do preconceito".

Me deparei com o excelente artigo da Dra. Noelia Sampaio:

 "Desconstruindo o Preconceito na Sociedade Contemporânea" (Revista Justiça & Cidadania).

E, para minha surpresa, o começo do arraigamento do problema iniciar-se aos 7 anos de idade (Universidade de Erfut/Berlim).

Confesso que eu desconhecia maiores dados sobre o assunto, na área que atuo, a emocional: pessoas discriminadas têm 4 x mais chances de apresentar sintomas de depressão, ansiedade, má concentração, baixa estima, agressividade, desvios comportamentais, entre outros (Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC).

Outros dados também se mostraram impressionantes. Uma pesquisa por declaração voluntária, revelou que 29% dos brasileiros são homofobicos. 20% anti religiosos e 7% machistas.

Não houve jeito de fugir, refleti bastante sobre a minha vida, na Bahia... Nascido em uma família pobre, miscigenada, a natureza me estabeleceu sarará, vivendo em um bairro de ricos e brancos.

Sem desfaçatezes próprias das crianças e adolescentes, meus amigos de infância não se sentiam representados por mim. E nem o podiam. Era eu que desejava ser um deles e não o contrário. Hoje entendo.

Me maltratei tanto sob uma auto estima em frangalhos que o meu primeiro beijo na boca ocorreu aos 20 anos... longe de lá, bem longe de lá, no Rio de Janeiro. Me sentia tão feio e fora dos padrões que não me permitia saber quem eu era de verdade.

Entretanto, sob aparência inadequada aos meus olhos, me tornei o melhor aluno da escola e exaltado pelos professores. Sim, fui repeitado por isto. Nenhum dos "cabeludos" me superava nos estudos. Uau! Que sentimento inenarrável em plenitude mental. Enfim, alguma importância pessoal.

Com o tempo, descobri que eu era o 'coitado' porque me permitia ser. Mais do que isto; me conscientizei que eu desejava ser outra pessoa. O preconceituoso não era o 'outro', eu era próprio!

Difícil confissão!

Libertador posicionamento!

Assim como fui no passado, penso que hoje vivenciamos uma triste realidade comportamental, onde não se pode confessar, se libertar, sublimar, talvez. Em definitivo, o grupo situa-se mais importante que o indivíduo.

Apesar de politicamente incorreto, assumo considerar que os preconceitos históricos avançam sobre novas veredas: vejo gays discriminando negros; negros discriminando índios; índios, os brancos; os brancos, os sararás... E, os sararás, a quem restar.

Observo vivenciarmos o momento da imbecilidade evidente; onde para ser um imbecil, basta você estar do outro lado.

Será que o título desta crónica tem um quê de preconceituoso?

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Depois de escrever este texto e após mais de 30 anos evadido das relações juvenis do passado, decidi procurar os meus amigos de infância em Salvador. 

Eu soube que um deles se tornou alcoólatra. Outro um dos 3 maiores empresários baianos. Alguns descasaram. Outro sofreu um acidente com arma de fogo e ficou paralítico.

Para mim não importa suas vidas, apenas desejo lhes revelar, sob abraços apertados, o quanto os amei, profunda e verdadeiramente.

(Obrigado, Marcelão!)

Paulo Portela

CEO da Medikus Sistemas de Saúde e fundador do Base Social (apoio emocional a trabalhadores)

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