E Aline Descobriu o que é Amar! (Quatro Mulheres Curtas - Última Parte)

Quarta (e última) história da série imperdível:QUATRO MULHERES CURTAS de textos concisos, mas densos de sentimentos e dramas. Acompanhe aqui em Cronistas de WhatsApp!


E Aline Descobriu o que é Amar! (Quatro Mulheres Curtas - Última Parte)


Ato I - Ilusões de Ótica 

O vento frio faz mover as sombras na madrugada e Aline tem impressão que há dois homens parados, a 200 metros, na penumbra da esquina. Se quiser chegar em casa, vai ter que passar por ali. Respira fundo e se benze na rua deserta:

– E se eles forem assaltantes ou almas penadas? – aflige-se.

Cautelosa, diminui o ritmo dos passos enquanto o coração acelera. O vento fica mais frio e o tempo quer congelar. Quando chega a 50 metros da esquina, no entanto, percebe que os “homens” nada mais eram que silhuetas de arbustos recém podados. Ufa!... Foi apenas um susto!

Na segurança do lar, antes de dormir, Aline pensou sobre a ilusão de ótica ocorrida. Lembrou também que na manhã anterior, próximo à estação do metrô, havia um homem caído e torto, parecendo bêbado ou drogado. Pensando melhor, o homem também poderia estar sofrendo uma convulsão, mas quem pensasse assim se veria obrigado a socorrê-lo... Então todos preferiram vê-lo como drogado para não se atrasarem na chegada ao trabalho.


Ato II - Metamorfose de Aline

Metamorphose - Maurits Escher *1988 +1972


Aqueles pensamentos provocaram um sorriso de amarga ironia em seu olhar que repousou na parede, mais precisamente, sobre uma reprodução de uma gravura de Escher – o mágico da ilusão. Naquela gravura haviam lagartos que viravam favos, que pariam abelhas, que ganhavam o céu, onde Aline vagou. Na vagância lembrou das belas paisagens panorâmicas do Grand Canyon, onde a mega-distância transforma pedra e terra seca numa vista deslumbrante. Foi quando o sono chegou e Aline dormiu, e sonhou.

Quando acordou, Aline já não era a mesma. Ao arrumar-se, diante do espelho, fez tudo igual, mas de um jeito diferente. Pela primeira vez na vida, arrumou-se para si mesma. Nem quis saber o que iriam pensar da sua camisa vermelha!...

Na sala ao lado a TV exibiu “Love Of My Life”, com Freddie Mercury regendo 250 mil pessoas no inesquecível show do Rock in Rio’85 – um fantástico exemplo de sintonia e consagração. Ironicamente, no mesmo ambiente havia um poster dos Doze Girassóis de Vicent Van Gogh, um top10 da pintura, que em sua época não obteve a mesma consagração do ídolo do rock...

– Como isso foi possível? – argüiu-se inconformada – Um gênio da pintura só ser reconhecido 50 anos após seu suicídio!... Será que na penumbra do passado os amarelos de Vicent não saltavam das telas para as almas das pessoas? Será que a nas ruas escuras das mentes fechadas, milhares de arbustos se revelassem fantasmas – como os assaltantes da esquina – e o povo assustado nem percebesse conceitos novos de beleza?

Freddie Mercury no Rock in Rio'85.


Ato III - Entendendo o que é Amar

Aline não obteve resposta às suas perguntas. Só sabia que apesar de tudo estava feliz, uma felicidade sem aparente explicação. Então decidiu juntar os fatos, como peças de quebra-cabeça, encontrando algumas respostas:

1- Se olhando de perto os algoses são apenas arbustos e, de longe, pedra e barro se covertem nas mais belas paisagens, bastaria situar-se na distância certa para se livrar dos sobressaltos ou perceber a beleza das coisas.

2- Quando o povo tem pressa, não importa se você está bêbado ou sofrendo uma convulsão, mas é preciso amar as pessoas do jeito que elas são.

Quando arrumou-se para si mesma, Aline libertou-se do julgamento alheio e manteve-se ereta. Era preciso ficar de pé, pois se caísse no chão, convulsiva, seria pisoteada feito bêbada por sapatos apressados. Aceitou o fato e substituiu aquele sorriso de amarga ironia pelo brilho do olhar de quem ama incondicionalmente.

Como as abelhas de Escher Aline se libertou, ainda em vida! #

(Leia também a Parte 1 - Ana Sentiu Saudade, Parte 2 - Ana Cíclica e Parte 3 - Pirulitos ou Cigarros, desta série, aqui nos Cronistas)

Abraço!
Bira.

(Postagem de WhatsApp, sem revisão de prováveis erros)
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