Ana Sentiu Saudade (Quatro Mulheres Curtas - Parte 1)

Primeira história da série imperdível: QUATRO MULHERES CURTAS de textos concisos, mas densos de sentimentos e dramas. Acompanhe aqui em Cronistas de WhatsApp!

"Mulher!" - Recortes de imagens (cabelos são pinceladas de Van Gogh, citado no Episódio 4 da série) - Bira (jan/2013).


Ana Sentiu Saudade (Quatro Mulheres Curtas - Parte 1)

Naquela manhã, Ana acordou, mas permaneceu uma hora deitada sob impacto do sonho confuso que tivera...

No sonho, duas espirradeiras carregadas de flores rosadas emolduravam a varanda da casa onde nasceu e viveu durante a infância. Parecia um cenário de filme romântico. Seus pais formavam um jovem casal que, na namoradeira, trocavam carícias e planejavam o futuro. Ela, uma criança que no jardim preparava comidinha para suas bonecas. 

Pedaços do sol vazavam entre as folhas de um cajueiro e dançavam pelo chão. O chão da terra batida, da folha seca, da dormideira e do gongolô. O chão desprovido asfalto ou cimento, onde zunia o peão e as gudes se chocavam. Onde flores suicidas se atiravam, só porque não foram presas entre os cabelos negros de sua mãe.

Eis que também despencou uma chuva violenta e impossível, destruindo o belo cenário e arrastando essa mãe. No repente, amendoeiras sombrias tomaram a vez do jardim e o sol amedrontado se escondeu atrás da última montanha. Ana ainda tentou recolher as bonecas e procurar um abrigo, mas elas se transformaram em pombos mortos. O susto fez Ana apunhalar o ar com um grito agudo e de eco infinito, até que seu pai a acudiu:

– Calma filha... Vamos sair daqui!

Quando Ana olhou para o pai ele já não era mais o jovem que namorava minutos atrás. Aparentava ter 50 anos. Percebeu que ela própria não era mais criança – tinha, corpo, voz e consciência de adulta. Percebeu que a tempestade sumiu e tudo mais desapareceu, restando apenas os dois numa sala sem cor, paredes ou limites. Abraçou o pai saciando uma enorme saudade, então lembrou que ele morrera há 10 anos e acordou. Então, seus olhos se abriram em lágrimas que a fronha solidária bebeu... 

Naquela manhã, Ana acordou, mas permaneceu uma hora deitada sob impacto do sonho confuso que tivera... #

(Aguarde a Parte 2: Ana Cíclica)

Abraço!
Bira
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(Postagem de WhatsApp, sem revisão de prováveis erros)
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